Este que, traduzido para o português significa "Os três vales", é simplesmente a maior área esquiável interligada do mundo, localizado na França e para onde embarcaram os casais Moises e Elen Albuquerque, Claudio e Claudia Caniato, e Eduardo e Patricia Watfe, em uma expedição de esportes de inverno documentado em primeira mão para a WIT
TEXTO VINÍCIUS LIMA FOTOS ACERVO PESSOAL
Os esportes de inverno não são tão populares aqui no Brasil por motivos mais que óbvios. Porém, muitos filhos desta terra tropical têm rompido fronteiras com o objetivo único de fugir do verão do hemisfério sul em busca do inverno do hemisfério norte, onde os programas de férias são muito mais ativos e radicais.
Em Maringá, um grupo de amigos se reuniram, anos atrás, para uma dessas aventuras e nunca mais pararam. O filho mais velho de Eduardo e Patricia Watfe, por exemplo, esquia desde os 4 anos de idade. "Já teve anos em que conseguimos, no mesmo ano, fazer duas viagens, aproveitando o inverno das estações do sul como Chile e Argentina e depois indo para países do hemisfério norte", explica Eduardo Watfe. Este grupo de amigos não é tão grande, mas como a maioria têm filhos, já rolou expedições que chegou a ter 17 pessoas viajando juntas.
A mais recente dessas viagens foi feita pelos casais Moises e Elen Albuquerque, Claudio e Claudia Caniato, e Eduardo e Patricia Watfe, todos com seus respectivos filhos, para uma das regiões mais empolgantes do mundo para se praticar esportes de inverno: Les Trois Vallées. Localizado na França, essa região de vales possui 200 ski lifts (teleféricos que interligam as pistas) e 335 pistas que somadas totalizam 600 quilômetros! Existem 6 resorts que servem toda essa região, e o escolhido pelo grupo nesta última viagem foi o Club Med de Val Thorens.
Chegar a Val Thorens foi fácil: saindo de Maringá, o vôo fez conexões nas cidades de São Paulo, Zurich na Suíça e por fim Paris, França, onde eles embarcaram no TGV, o trem bala francês, parando na estação de Morges onde esperava um translado próprio do Club Med Val Thorens, um resort que, segundo eles, possui ótima infraestrutura para famílias que viajam com as crianças.
Algo muito interessante de compreender a respeito dos três vales é que, por eles estarem interligados, é possível você desfrutar dos complexos de esqui não apenas do seu resort, mas de toda a região, vencendo a distância fazendo ski ou snowboard, além dos teleféricos que vão inclusive de uma montanha a outra, com capacidade de passageiro que varia de um, para os que são individuais, até 150 pessoas por cabine (oi?). "Um dia nos programamos para ir até Courchevel, uma das cidades mais caras da região dos três vales, foram 35 km de esqui e mais de duas horas até chegar lá, mas valeu muito a pena, porque é uma região muito concorrida, com restaurantes na montanha e até um aeroporto em grande altitude para pequenas aeronaves de luxo", conta Patricia Watfe.
É claro que vencer toda essa distância e se divertir descendo montanha abaixo exige técnica e, principalmente, condicionamento físico. Moises Albuquerque, que iniciou essa jornada de esportes de inverno há 16 anos, dá uma dica para quem nunca esquiou: "não comece por Bariloche". Segundo ele, as pistas para iniciantes de Bariloche, na Argentina, são muito planas, e as pistas para experientes são muito íngrimes, não possuindo um meio termo. Para ele, uma ótima opção para aprender a esquiar são as estações do Valle Nevado, no Chile, e Buttermilk em Colorado próximo de Aspen e que, fazendo uma tradução livre, significa "mel na chupeta".
Moisés explica ainda que as crianças têm muito mais facilidade para aprender a esquiar, por um motivo muito simples: "o centro de gravidade das crianças é muito baixo, por isso elas caem e não se machucam como nós, adultos. A minha filha aprendeu a esquiar em um dia, já descendo a montanha".
Claudio e Claudia Caniato iniciaram sua jornada no mundo do esqui no Valle Nevado, em 2010. Claudio quebrou um dedo e uma costela, mas não se arrependeu e já acumula em seu currículo 17 viagens para estações mundo afora, tendo em diversos anos conseguido conciliar viagem em julho no hemisfério sul e janeiro/fevereiro em regiões do hemisfério norte. "Aprender a esquiar é como aprender a andar de bicicleta: cada tombo é um prazer", brinca Claudio.
Vale ressaltar que, como em qualquer viagem em família, a segurança deve vir em primeiro lugar. As famílias Albuquerque, Caniato e Watfe não economizam nos equipamentos de segurança, todos usam capacetes, protetores de coluna e quadril, além de roupas especiais para proteger contra o rigoroso frio.
E pra quem acha que só quem viaja para a praia se preocupa com as condições climáticas, está muito enganado. Claudio tem instalado em seu iPhone um aplicativo chamado Snow Forecast, que reúne as condições meteorológicas de todas as principais estações de esqui do mundo. "Se fala no aplicativo que vai nevar 10 cm, pode ter certeza que neva os 10 cm", garante Claudio. São informações que ajudam a compreender quais serão as condições da pista e da neve presente nela: powder é aquela neve fresca que caiu na noite anterior, é a pista ideal; Icy ou Packed é aquela neve compactada e dura, por onde já passaram muitas pessoas, é o pior tipo de neve para esquiar; e tem também a Groomed, uma neve "remexida" por máquinas, um recurso utilizado pelos resorts para melhorar um pouco as pistas que estavam muito "Icy".
Neblina, vento, risco de tempestade e avalanche também são fatores que estão constantemente no radar de quem esquia. Em todos estes anos esquiando, nenhum dos três casais entrevistados teve uma "viagem perdida" do tipo que não consegue esquiar. Porém, sempre rola de algumas pistas ficarem fechadas. "Em Las Leñas, Argentina, existe um dos ski lifts mais famosos do mundo, localizado no interior da Cordilheira dos Andes, mas infelizmente sempre que fui o teleférico estava fechado", lamenta Claudio. Já Eduardo e Patricia tiveram a "sorte" de ter uma pista fechada em pleno uso: "certa vez estávamos esquiando numa das pistas de Pragelato-Sestriere, um Club Med localizado nos alpes italianos, quando megafones espalhados pelo complexo anunciou o fechamento das pistas dentro de uma hora; de onde estávamos era impossível voltar ao hotel esquiando com uma hora, por isso descemos até a base da montanha e pegamos um taxi de volta", explica Patricia.
Nessas deliciosas aventuras de inverno, uma característica prevalece: o estar em família. Para Eduardo e Patricia Watfe, a integração com a família é a parte mais importante deste hobby coletivo. "É uma semana para ficar junto da família, o dia todo, todos os dias. Se um dos membros da família não esquiasse a experiência da viagem não seria completa, porque a gente geralmente sai do hotel às 10h e voltamos somente após as 17h, quando as pistas fecham", explica Eduardo.
Já para aqueles que não têm filhos, o programa também é espetacular, conforme explica Moises Albuquerque: "Em todas estações de esqui tem uma festa ao final do dia chamada pós-esqui, que os franceses chamam de après ski, que é como se fosse um happy hour das pistas de gelo. Um dos après ski mais famosos da Europa é o de Val Thorens onde estávamos". Para Moises, viajar em família e também com famílias amigas faz a programação ficar ainda mais empolgante. "Já fomos para Zermatt na Suíça, Lake Tahoe na Califórnia, Snowmass e Aspen no Colorado, Chillán no Chile, Courchevel na França e tantos outros países", enumera Moises.
Mas será mesmo que vale a pena trocar as havaianas, shorts e biquíni por todos aqueles equipamentos de esqui e snowboard? A resposta unânime foi que sim. "Desde pequenos e até hoje, se pergunto pros meus filhos 'praia ou neve?' a escolha deles sempre vai ser neve", conclui Eduardo.
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