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Vem aí o 5G (de verdade!)

A tecnologia de quinta geração para as redes móveis ainda nem chegou para valer no Brasil, mas já está causando euforia, afinal o 5G promete causar uma verdadeira revolução na relação entre pessoas e máquinas. Para entender melhor os impactos econômicos e expectativas para um futuro próximo, a WIT convidou um especialista e um empresário para falar sobre o assunto

TEXTO CAMILA MUNHOZ FOTOS REPRODUÇÃO

Quando menos se esperar, um ‘bip’ vindo da geladeira poderá indicar muito mais do que simplesmente que a porta ficou acidentalmente aberta ou ainda que a bebida no congelador já está gelada o suficiente para ser consumida. Acredita-se que em pouco tempo, este, e outros eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos, poderão fazer muito mais para facilitar tarefas diárias. Imagine, por exemplo, que de manhã, ao pegar uma caixa de leite na geladeira, o refrigerador identifique que aquela unidade é a última do estoque da casa e, sem que o usuário faça muito esforço, o próprio aparelho poderá solicitar direto ao supermercado a reposição do item.


Para usuários mais “à moda antiga”, que talvez prefiram ir pessoalmente ao mercado e a outros estabelecimentos comerciais, o translado poderá ser feito com carros autônomos, ou seja, que não precisem de motorista. Além disso, cirurgias poderão ser automatizas por meio de robôs, assim como colheitas na zona rural. As possibilidades de transformação são infinitas e serão possíveis com a nova tecnologia que está prestes a chegar ao Brasil. Ao que tudo indica, o 5G deve começar a operar em território nacional após um leilão de radiofrequências feito pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que deve ocorrer ainda no primeiro semestre de 2021, porém, alguns aficionados por tecnologia, já estão tendo um gostinho, cerca de 10% apenas, do que vem por aí.


Trata-se do 5G DSS, que pode ser entendido como a evolução do 3 e do 4G, afinal, segundo o professor Marcello Bonfim, coordenador dos cursos de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Engenharia de Software do Centro Universitário de Maringá (Unicesumar), essas tecnologias compartilham a mesma rede. “A sigla DSS significa Dynamic Spectrum Sharing, ou seja, compartilhamento dinâmico de espectro e permite uma taxa de transferência de dados de 100 megabytes por segundo, o que equivale a uma diferença muito pequena em relação ao 4G, por exemplo”, diz.


Já o 5G de verdade, como tem sido chamada a nova tecnologia, permite taxa de transferência de um gigabyte por segundo, ou seja, dez vezes mais do que já se tem no país. Quando se fala de revolução tecnológica por meio da internet das coisas é, sem dúvida, do 5G de verdade que se trata.


O exemplo citado acima, da geladeira que faz compras sozinha, poderia ser realidade simplesmente usando uma rede wi-fi, porém, alguns especialistas afirmam que na atual conjuntura não teríamos um espectro capaz de suportar milhares de geladeiras e outros dispositivos conectados ao mesmo tempo, e é isso que o 5G vai, na teoria, permitir. “Com o 5G, o volume e a velocidade da informação serão muito maiores, o que amplia as possibilidades de utilização e também de criação de novos produtos”, afirma Bonfim.

DESAFIOS

Enquanto as operadoras de telecomunicação escancaram o termo ‘5G’ nas ações de marketing para vender planos e aparelhos, o caminho efetivo até a implantação da tecnologia no Brasil, na verdade pode ser um pouco mais longo do que se imagina. Países que detém o 5G de verdade: China, Suécia e Finlândia por meio das empresas Huawei, Ericsson e Nokia, respectivamente, têm travado uma verdadeira guerra comercial e política em busca de espaço.


A decisão brasileira, no entanto, de qual tecnologia deve operar no país deve acontecer somente após o leilão da Anatel, que vai definir além dos fornecedores, operadoras nacionais autorizadas a comercializar a tecnologia, metas de cobertura e cronograma de municípios contemplados.


Segundo Bonfim, outro desafio é em relação a estrutura necessária para o funcionamento do 5G de verdade. “Diferente do 3G, 4G e 5G DSS, o 5G de verdade opera em outra frequência, com as chamadas ondas milimétricas que são ondas mais altas, por isso, possibilitam mais velocidade, no entanto, esbarram em obstáculos físicos como paredes, o que faz com que sejam necessárias muito mais antenas para atender determinado espaço, o que consequentemente aumenta o custo de instalação”, explica.


Além disso, segundo Bonfim, a migração para aparelhos que comportem o 5G deve ser gradativa. “É natural que no início pouca gente tenha acesso à nova tecnologia, com o 5G não deve ser diferente, o serviço deve começar mais elitizado e com o tempo ir se popularizando, como aconteceu com tecnologias anteriores”, diz. Para se ter uma ideia, hoje, uma geladeira com conexão à internet para simplesmente mostrar por meio de uma câmera o que tem dentro dela, custa em média R$ 20 mil.


Por fim, o professor destaca que a segurança de dados deverá ser amplamente discutida no processo de implantação do 5G no país. “Com maior conectividade da população aumenta também a exposição de informações pessoais, o que pode representar um risco aos usuários, por isso, a nova tecnologia vai exigir uma regulamentação adequada à essa realidade”, afirma. Apesar dos desafios, Bonfim se diz um entusiasta do 5G. “Acredito que será um divisor de águas que vai melhorar ainda mais o nosso o dia a dia trazendo mais comodidade e qualidade de vida”, finaliza.


Reflexo nos negócios


Aos 56 anos, o empresário Jefferson Nogaroli tem uma bagagem ampla no que se refere ao universo dos negócios. Ele é presidente do Conselho de Administração da Companhia Sulamericana de Distribuição (CSD), da qual fazem parte os Supermercados Cidade Canção, Amigão, São Francisco e Stock Atacadista. São 59 lojas instaladas em 29 cidades de três estados e mais de 9 mil funcionários, mas não é só isso.


Nogaroli é também presidente do Conselho de Administração do Sicoob Sul (Cooperativa de Crédito de Livre Admissão do Sul do Brasil,) que fica em Curitiba, participa da administração da empresa de cartões Coopercard, com sede em Maringá e atua no setor imobiliário. Além de disso, acumula contribuições em diversas entidades representativas.


Em relação a chegada do 5G ao Brasil, Nogaroli acredita que será um novo marco em termos de automação e que a tecnologia vai causar mudanças globais no estilo de vida das pessoas. A expectativa agora, segundo ele, é que, apesar de questões políticas, o Brasil opte pela melhor tecnologia disponível. “Em termos comerciais, acredito que já estamos atrasados, afinal, estamos competindo com o mundo e muitos países já têm o 5G em operação”, diz.


O empresário acredita que o varejo e o setor de serviços devem ser dois dos mais afetados pela chegada do 5G de verdade e, que assim como ocorreu em outros momentos da história de grandes transformações, vai exigir das empresas adaptação. “O mundo dos negócios é darwiniano, ou seja, quem se adapta, sobrevive e quem não se adapta, é extinto, desaparece”, diz.


Em um dos ramos em que atua, o de supermercados, Nogaroli acredita que a tecnologia vai permitir interações mais assertivas com os consumidores e, com isso, melhorar a experiência de compra do cliente. Ele vislumbra, por exemplo, que ao entrar em um estabelecimento, o consumidor poderá ser notificado pelo celular sobre uma oferta exclusiva para ele, com base em seu histórico de compras e interesses. “Hoje já fazemos algo semelhante pelos programas de fidelidade, mas sem dúvida, poderá ser muito aprimorado com o 5G, além é claro, da possibilidade de o cliente fazer suas compras por outros meios, como pela própria geladeira dentro de casa”, diz.


No setor de serviços, ele aposta que o delivery, impulsionado pela pandemia do novo coronavírus, vai continuar crescendo e vai além, acredita também que aplicativos de mobilidade, como o Uber, poderão operar sem motoristas. Em relação aos serviços financeiros, Nogaroli afirma que o Pix foi um passo fundamental para o novo cenário que se aproxima. “O 5G vai nos trazer a possibilidade de aperfeiçoar ainda mais os serviços bancários digitais e, gradativamente, o dinheiro em espécie deve deixar de fazer parte da nossa rotina, com isso, teremos uma economia expressiva no que se refere aos gastos com segurança das agências e cooperativas de crédito. Não serão necessários, por exemplo, portas giratórias, seguranças armados e carros-fortes”, finaliza.




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