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Sig Bergamin

Diretamente de seu escritório em São Paulo, fomos recebidos por Sig Bergamin para um bate-papo delicioso e descontraído sobre sua arquitetura e arte, um universo colorido, de múltiplas etnias, culturas e épocas, que projetou seu nome e o Brasil no cenário internacional. Orgulhosamente apresentamos a seguir a entrevista cedida com exclusividade para a WIT


TEXTO VINÍCIUS LIMA
FOTOS BRUNO POLETTI / BJORN WALLANDER

Em um antigo casarão localizado na R. Cônego Eugênio Leite, no Jardim América de São Paulo, quase na esquina com a Alameda Gabriel Monteiro da Silva  o principal endereço de São Paulo para lojas de arquitetura, design e decoração –, encontramos o escritório de Sig Bergamin. Após cruzarmos um portão finamente forjado, retorcido e dobrado em aço, nos deparamos com lindos canteiros de alecrim, e uma fachada tomada por Partenocisso, uma trepadeira também conhecida como Falsa Vinha, por sua folhagem que se assemelha a uma videira. Nem precisou alcançarmos o hall para já nos sentirmos em outro mundo, em outra atmosfera. Considerado atualmente o arquiteto, decorador e designer de interiores mais renomado do Brasil, Sig Bergamin ganhou notoriedade internacional simplesmente por não ter medo de ousar, seja através do uso de cores fortes, estampas marcantes ou uma combinação inesperada de móveis e objetos decorativos que tornam a sua arquitetura reconhecida como maximalista. Nascido em Mirassol, no interior de São Paulo, desde muito cedo ele sabia qual o seu talento e qual o seu propósito no mundo. Com 15 anos de idade, entediado com o próprio quarto e movido por um surto de criatividade, comprou metros e metros de Chita de algodão nas lojas Pernambucanas para redecorar seu quarto. A escolha pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos foi natural e de lá ele já saiu brilhando, afinal, como diz o ditado, tubarão já nasce nadando. Ele se tornou um dos arquitetos preferidos pela high society paulistana, projetando para famosos como Jô Soares, Maitê Proença e Nizan Guanaes. Seu trabalho e estilo únicos, reconhecível há quilômetros de distância, passou a estampar as principais revistas de arquitetura e design ao redor do mundo, como Architectural Digest, Elle Decor e Casa Vogue, abrindo portas para estabelecer seu escritório em Nova York, e assinar projetos no mundo todo como França, Inglaterra, Portugal e Uruguai, só para citar alguns. Ainda inebriados pela beleza de sua sala de recepção – que mais parece uma galeria de colecionador – fomos tomados de surpresa quando ele próprio abre a porta que revela um pavilhão imenso, de pé-direito duplo, banhado de abundante luz natural e cercado por prateleiras recheadas de livros e uma infinidade de objetos de seu acervo pessoal, uma visão que arrancou de nós, involuntariamente, um uníssono "óhhhhhh" que chamou a atenção de China, seu pet de estimação. De calça jeans, camisa branca e sorriso discreto, ele nos fez bem-vindos com sua voz baixa e compassada.

 

[WIT] O famoso editor da Vanity Fair, James Reginato, certa vez escreveu a seu respeito que você “é um sofisticado cidadão do mundo, mas representa a essência do Brasil”. Na real, de acordo com seu pensamento, você tá levando o Brasil nos trabalhos que tem feito lá fora, ou tá levando o Sig mesmo?

 

[SIG] Eu acredito que realmente estou levando o Brasil comigo, porque o Brasil tem uma certa vibração. Nosso país é um país solar, de dimensões generosas, então eu levo muita luz para os meus projetos, e cores que transmitem essa vibração, essa identidade brasileira que é diferente e exótica. Eu levo o Brasil junto comigo aonde quer que eu vá, uma pegada brasileira de mistura, contrastes e cores.

 

[WIT] Quando seu amigo, o fotógrafo Mario Testino, diz que você entende de todos os estilos, todas as épocas, todas as culturas, isso me sugere que você é um pesquisador nato. Quais as principais fontes de pesquisa que você gosta de sorver?

 

[SIG] Olhe ao seu redor e veja que livro é o que não falta [risos]. Eu também amo a Índia, para onde fui mais de 20 vezes, e também tenho uma coleção de livros sobre a Índia. Eu acho a Índia e o Brasil muito parecidos, pelas cores, misturas e etnias. Mas a inspiração não é só viagem, vem de amigos, museus, galerias, épocas… Eu amo os anos 60, 70, 80, 40… Eu gosto de viajar meeeesmo por diferentes períodos e sou muito aberto ao diferente, a novas experiências, novos sabores. Amo a comida indiana, brasileira, italiana, enfim, e sou muito comunicativo, sou um cidadão do mundo e falo todos os idiomas, nenhum perfeitamente [brinca para o riso de toda a equipe].

 

[WIT] Sobre essa arquitetura monocromática e "pasteurizada", de tons beges e cinzas, o que você tem a dizer?

 

[SIG] Eu costumo dizer que são 50 tons de bege [risos]. Na verdade, tudo o que vemos na arquitetura de interiores é fruto de um movimento prático. É uma "fórmula pronta" por assim dizer. Existe um mix das principais peças do design nacional, são peças lindas, maravilhosas, de combinação infalível que acaba tornando tudo muito parecido. Eu sou rodeado de coisas porque não consigo viver de outra forma, eu não consigo viver minimalista, eu tenho 6 casas apinhadas de objetos pessoais, mas eu acho que se eu tivesse uma sétima casa na Grécia, incrustada em um penhasco na beira do mar, essa casa seria minimalista. Mas regra geral, o que faz bem, não só para mim, mas para qualquer pessoa, é estar perto de tudo o que te faz bem.

 

[WIT] Na prática, como que você faz para levar tudo isso pra casa das pessoas que te contratam?

 

[SIG] Eu faço o que você tá fazendo, uma entrevista, para descobrir tudo sobre a pessoa, porque o bacana da decoração é a pessoa se identificar com um mundo que é dela. Eu tenho um apartamento em Paris que é todo listrado em preto e brando, eu jamais vou fazer isso na casa de uma pessoa se não fizer sentido pra ela e pro mundo particular dela.

 

[WIT] Mas eu ainda quero entender, na prática, como que acontece esse garimpo, aonde você encontra estes objetos fantásticos?

 

[SIG] Primeiro eu apresento pro cliente o anteprojeto, que é um esboço dos espaços e layouts que se enquadram com a necessidade do cliente, pra resolver as questões espaciais e necessidades prática como ter ou não academia em casa, escritório, biblioteca e outras necessidades práticas baseadas no cotidiano de cada morador. Depois a gente começa a fazer o recheio, que é realmente garimpar, em lojas, no mercado de pulga de Paris, na Flymark de Nova York, aqui no Mooca tem muita coisa, vamos a sebos, antiquários… Tudo isso de uma forma que faça sentido para a pessoa que vai morar, com coisas que ela gosta, ou até mesmo coisas que ela quer começar a gostar, mas em hipótese alguma eu escolho uma obra de arte por alguém, eu conduzo ela por um caminho de identificação, porque quem precisa se encantar com a peça ou a obra de arte, é ela, e não eu.

 

[WIT] E você consegue encontrar prazer nesse garimpo feito para outras pessoas ou só quando é para você mesmo?

 

[SIG] Eu nem posso mais fazer garimpo pra mim, já estou com 3 galpões lotados, fora o que tenho nas minhas casas. Eu não posso mais comprar um copo sequer, nada!!! [todos riem]

 

[WIT] E pra desapegar das suas coisas, é fácil?

 

[SIG] Pra mim o desapego é muito difícil, mas estou trabalhando nisso. Principalmente quando mudo de endereço e percebo que nada serve pro novo espaço, eu acabo dando uma reciclada, porque embora o desapego seja difícil, eu acho muito importante renovar os ambientes.

 

[WIT] E para quem quer se aventurar a criar seus próprios redutos de coisas boas e se cercar de coisas bacanas, qual sua dica?

 

[SIG] Tudo é válido, qualquer peça que você goste pode ser um objeto de decoração, não importa se é uma porcelana caipira ou um artefato da dinastia Ming, porque bom gosto não é sinônimo de dinheiro, e geralmente quem tem muito dinheiro não tem bom gosto.

 

[WIT] Sig, qual a sua cor?

 

[SIG] Minha cor sempre foi azul, todas as minhas casas eram azuis, agora não tem mais nada azul, agora é tudo verde.

 

[WIT] Você enaltece tanto nosso país solar e tropical, o azul não é uma cor fria?

 

[SIG] Nunca! Azul é mar, azul é céu. O verde é a natureza. O vermelho é o tomate, uma cor que nunca uso em excesso, apenas em pontos de destaque no meio de um todo.

 

[WIT] Sig, com a entrada do Murilo Lomas na sua vida, percebo que alguns projetos vocês assinam em coautoria. Pra você é uma novidade esse coletivo criativo?

 

[SIG] Nossa parceria é uma parceria que obviamente deu certo, tanto que alguns clientes fazem questão de assinarmos juntos o projeto. A vida toda eu sempre trabalhei sozinho, então pra mim é sim uma novidade, tem momentos que preciso fazer concessões e ele também, mas via de regra a gente acaba gostando das mesmas coisas, eu admiro muito o trabalho do Murilo, eu sou extremamente esteta, eu jamais estaria com uma pessoa que não tivesse bom gosto, e o Murilo é muito elegante, no vestir, no falar, no portar-se e, claro, na arquitetura.

 

[WIT] Pra você, o que é ser elegante?

 

[SIG] Ser elegante é ser educado, respeitar o outro, saber admirar o outro e não desfazer de ninguém. Todo mundo merece amor, carinho e gentileza. Ser correto e ter caráter é elegante. Depois vem o bom jeans, a camisa branca… Ser elegante não é sinônimo de ter dinheiro, em um voo você consegue perceber tudo isso, o sujeito que é educado, que fala baixo, trata uma aeromoça com cortesia e não incomoda quem está do lado, e tem aquele sujeito que maltrata o comissário de bordo, fala grosseiramente e incomoda todo mundo. Resumindo, elegância é respeito.

 







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