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Palavras plantadas, palavras colhidas

Três mulheres que vivem em Maringá. Três escritoras de livros. Apesar da raríssima coincidência, Izabela, Paola e Thaise se encontraram pela primeira vez em um bate-papo promovido pela WIT para saber como é a vida de três jovens autoras do século XXI


TEXTO IZABELA GAMA GUANDALINI FOTO JOÃO PAULO SANTOS

Escrever pode parecer uma habilidade presente no cotidiano de muitos, afinal, escrevemos o tempo todo em nossas redes sociais, documentos de trabalho, etc. Mas quando nos colocamos a escrever algo que resultará em um livro, a história é bem diferente. Muito antes de colocar as palavras no papel ou em um documento no computador, elas já vivem dentro da sua mente. Elas se multiplicam e se desenvolvem, elas criam uma história para si e nos usam para contá-la.


A Thaise Ribeiro, uma das autoras maringaenses com quem conversei, acredita que "o sucesso é treinável", inclusive esse é o título do livro para o qual ela escreveu em co-autoria. Eu acredito nisso também. Vi com os meus próprios olhos como a prática pode levar ao sucesso na escrita. Aos 18 anos, como uma jovem estudante de jornalismo, eu achava meus textos impressionantes. Aos 19, quando os lia, já via que não eram nada demais. E assim foi indo sucessivamente. Hoje já não sinto vergonha de nenhum deles, entendi que eles têm seu valor, porque se não os tivesse escrito, eu não escreveria como faço hoje.


Conversei também com a Paola Aleksandra, maringaense, autora de romances e, pasmem, uma escritora por profissão, que tem contrato com editora e tudo, daquelas que a gente acha que só existe em uma galáxia bem distante. As histórias dos livros da Paola viviam dentro dela muito tempo antes de ela acreditar que era capaz de contá-las. A Paola ousou colocar no papel personagens que falavam com ela constantemente, sedentos de contarem suas histórias. Ela conta que a primeira cena de seu primeiro livro, "Volte para mim", surgiu enquanto ela tomava banho.


Durante a quarentena eu aprendi a bordar. E vejo como esse processo se assemelha ao da escrita. Como é necessário que um ponto encontre outro para formar um desenho e como um bordado se recusa tomar a forma desejada quando sua mente não está no lugar certo. Eu percebo que, muitas vezes, quando pego o tecido despretensiosamente, o bordado nasce rapidamente. E isso acontece também com meus textos.


A pesquisa é um dos poucos fatores comuns entre o meu livro, o livro da Thaise e os da Paola. Ela é imprescindível. Imagine escrever sobre a Escócia e nunca ter estado lá. A Paola fez isso! E se até hoje ela recebe mensagens de pessoas que leram "Volte para mim" e estiveram na Escócia dizendo como foi incrível ver ao vivo coisas que a Paola descreveu, foi porque ela pesquisou. A mesma coisa com o seu segundo livro, "Livre para recomeçar", que se passa no Rio de Janeiro da era do café e descreve cenários que resistiram aos anos e continuam de pé. A Paola só conheceu esses lugares depois de escrever seu livro.


Romances são como poesia em prosa e lê-los é uma experiência, para muitos, mais agradável do que ler livros mais técnicos ou de auto-ajuda. Tornar a atividade mais prazerosa para o leitor é uma tarefa árdua nesses casos, mas não é impossível. Para mim, a parte mais prazerosa de publicar meu livro, que fala sobre liberdade de expressão no humor e a trajetória desse gênero no Brasil, é ouvir dos leitores que a linguagem usada é acessível e produz uma leitura fluída, apesar de tratar de um assunto delicado que atrai um público bastante específico. Para a Thaise, que já fala com o público com facilidade, pode parecer fácil, mas falar é bem diferente de escrever. E escrever quando sabemos que outras pessoas vão ler é diferente de escrever para si mesmo. A Thaise usa a frase do filme Homem-Aranha para descrever essa experiência: "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades". E ela não poderia ser mais precisa. Colocar suas palavras no mundo te expõe a críticas e elogios e, não duvide, ambos pesam. Saber que alguém discorda avidamente do que você escreve pode ser desagradável, mas te faz crescer. Saber que alguém concorda com você em gênero, número e grau pode ser assustador, mas é, sem dúvidas, mais gratificante.


A Paola, a Thaise e eu escrevemos sobre assuntos completamente distintos e de formas completamente distintas, nossos processos para publicar um livro tomaram caminhos que não se encontram e mesmo se todos esses fatores fossem idênticos para cada uma de nós, ainda assim produziríamos livros absolutamente diferentes.


Mas então por que escrever sobre as três na mesma matéria? Porque nós estamos aqui, em Maringá, não somos autoras publicadas de longe e nem precisamos sair daqui para fazer nossas histórias tomarem forma de livro. Não estou dizendo para pararem de olhar para fora e apreciar o verde da grama do vizinho, estou dizendo que a nossa grama também é verde, é diferente, mas é tão verde quanto a do vizinho e que é possível valorizar o que temos aqui enquanto apreciamos o que vem de fora.



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