Após alguns anos enfrentando a rotina acelerada dos estúdios, Rafael Saes decide que, para resgatar os valores que o tornaram fotógrafo, era preciso voltar às ruas. O resultado? Uma troca espiritual eternizada por suas lentes
TEXTO VINÍCIUS LIMA FOTOS RAFAEL SAES
Quando pegou pela primeira vez na câmera, ainda menino, Rafael Saes sabia que estava diante do seu futuro. O amor por essa arte começou nas ruas, onde ele registrava cenas do cotidiano, não da rotina em si, mas da forma com que as pessoas se relacionavam com a cidade, e vice-versa. Essa pegada urbana, tão presente em seus registros mais antigos, ecoam ainda hoje nos estúdios, onde ele foi consagrado como um dos melhores fotógrafos de moda do eixo fashion do sul do país. Não é à toa que nós somos fãs declarados do trabalho dele. Autor de inúmeras capas da Revista WIT, Rafa é expert em trazer texturas de sombras com preenchimentos de luzes que, mesmo em ambiente interno, transmitem a leveza de uma luz externa.
Como todo artista vive, em algum momento de suas carreiras, aquele momento de introspecção e de rever seus valores, Rafael se viu confrontado com seus próprios ideais quando estava, ao final de um ano de trabalho, fazendo backups e organizando seus drives. “No final de cada ano eu sempre dou uma limpada nos meus HDs, descartando fotos com ‘prazo de validade’, de campanhas já passadas. Numa dessas vezes eu percebi que meu trabalho estava muito comercial e que naquele ano eu não tinha produzido nada com caráter documental, que pudesse ser permanente ou levar conhecimento para futuras gerações. Foi quando eu decidi que precisar mudar”.
Para resgatar essa essência, Rafael decidiu voltar às ruas, aliando isso com seu sonho de conhecer outras partes do globo. Suas lentes já registraram povos latinos, africanos, de diversos países europeus e asiáticos, dando origem a um trabalho documental já exposto em diversas galerias com o título de Wauk. Neste trabalho, Rafael revela um ângulo desconhecido de locais em estado de risco social. “Gosto de ir pra lugares onde todo mundo acha que só tem coisa ruim acontecendo, mas eu vou a procura de sorrisos”.
Neste trajeto, o envolvimento emocional com a história e circunstâncias de tantos povos, fez Rafael adicionar um item fundamental em suas expedições fotográficas: a filantropia. De todas as histórias, a que mais gostamos foi protagonizada no Nepal, logo após o grande terremoto que matou milhares de pessoas e colocou em estado de emergência mais de 4,6 milhões de habitantes. Todas as fotos selecionadas para este editorial, com a curadoria de Hamilton Mariano, foram registradas por Rafael na Vila Patle, região nordeste do Nepal, à época um distrito tão remoto que foi preciso uma viagem de 8 horas nas montanhas com um carro off-road 4x4, 4 horas de caminhada até chegar em uma vila para pernoite e, no dia seguinte, mais 10 horas de trekking até chegar na Vila Patle, onde nem mesmo a energia elétrica conseguiu chegar.
Do valor arrecadado com a venda dos quadros do projeto Wauk, Rafael comprou um computador e impressora para a escola local, junto de painéis fotovoltaicos para gerar energia e doou também uma câmera fotográfica. “Quando se fala em doar, seja recursos materiais ou seus próprios talentos, é preciso mergulhar na cultura para entender o que as pessoas realmente precisam. Nunca vou esquecer da cena de toneladas de arroz que o mundo todo enviou pro Nepal por causa do terremoto, sendo que eles são um dos maiores produtores de arroz! Tinha tanto arroz que eles começaram a fazer destilados para não estragar... O que eles realmente precisavam era de recursos para reconstruir suas casas e suas vilas”, explica Rafael.
Sobre este tema, a WIT conversou com Mariana Serra, fundadora da VV Academy e uma das maiores autoridades do país em agenciamento de voluntários para projetos no Brasil e no mundo. Mariana é carioca e fundou a VV baseado na sua própria experiência de usar o momento das férias para se engajar em uma causa nobre: “a gente não agencia voluntários, nós formamos seres humanos durante uma experiência voluntária feita durante as férias”, explica Mariana. Segundo ela, um líder voluntário local que vive em escassez sabe muito mais do que nós que vivemos em um mundo ou condições privilegiadas. Está aí a importância de existir uma agência, como a dela, especializada em desenvolver respostas humanitários para o desenvolvimento social em diferentes circunstâncias, e principalmente treinar este voluntário que vai compartilhar seus talentos, seja no Brasil ou fora. “Além de um rigoroso treinamento para preparar este voluntário para uma imersão cultural, nós mensuramos o impacto real e positivo de cada voluntário, para que seja duradouro”.
Qualquer um pode embarcar nessa jornada pessoal do voluntariado. Para ilustrar isso, Mariana conta a história de uma médica que ficou apenas 7 dias em uma ONG que promove o empoderamento de mulheres no Quênia: “essa médica foi para uma ONG que já ensinava corte e costura para ajudar mulheres carentes a desenvolverem a autossuficiência financeira através da venda de vestidos. Então essa médica, que sabia fazer patchwork, decidiu ensinar essa arte para as mulheres e para os professores da ONG. Hoje, passados 4 anos, eles continuam ensinando patchwork e o volume de arrecadação com a venda de colchas de patchwork aumentou consideravelmente”.
Ficou interessado em fazer uma imersão cultural e, ainda, compartilhar seus dons e talentos? Acesse @volunteervac para saber mais.
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