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Julia Nakagawa

Tempo de mudança: dona de um espírito aventureiro, de quem ama mergulhar em novos desafios, é quase impossível acreditar que Julia Nakagawa teve uma vida típica de bancária até os 50 anos de idade


TEXTO VINÍCIUS LIMA FOTOS ACERVO PESSOAL


Na semana em que completava 64 anos de vida, entrevistei Julia Nagakawa. O bate papo que a princípio estava agendado para ser em seu apartamento, na Zona 3 de Maringá, regado a um bom café, foi migrada para uma plataforma digital em virtude dos cuidados com o novo Coronavirus. “Pode ser por vídeo chamada?”, perguntou ela, já revelando aptidão nata com os canais virtuais a despeito de sua idade. “Prefiro por telefone, pode ser?”, confesso, revelando uma alma retrógrada em corpo de menino.


A ligação, que aconteceu em duas etapas que somaram mais de 180 minutos, aconteceu em uma tarde de quarta-feira logo após Julia se recuperar de uma aula de Yoga online.


Dona de um espírito aventureiro de quem ama mergulhar em novos desafios, é quase impossível acreditar que Julia teve uma vida típica de bancária até os 50 anos de idade. “Eu era totalmente workaholic e sedentária. Achava que por ser magra, não beber, não fumar e dormir bem estava plena de saúde... Que exercícios físicos só servia para objetivos estéticos, que saúde se buscava em consultório de médico”.


Seu pensamento e concepção sobre a relação exercícios físicos e saúde veio com o tempo. Seu primeiro esforço consciente para sair do sedentarismo veio por meio do paraquedismo. “Eu achava que só um esporte com tanta adrenalina poderia me dar um certo prazer em face das atividades tão desgastantes que eu tinha como gerente de banco”, explica. Depois de inúmeros saltos realizados, Julia percebeu que, por não ter uma musculatura desenvolvida, não poderia evoluir como paraquedista. Até o momento em que seu instrutor a aconselhou a se matricular em uma academia. “Eu não tinha tênis para ir à academia no primeiro dia, fui com uma sapatilha comprada na Disney [risos]”, confessa.


Foi assim que Julia iniciou sua descoberta por grandes paixões. Da paixão pelo paraquedismo (hoje com 151 saltos no currículo) derivou a paixão pela musculação, e foi na academia que ela, por acaso, foi convidada a substituir uma pessoa em uma equipe de revezamento, em uma prova de 5km de corrida. Estava descoberta a sua nova paixão: a corrida. “Em toda viagem que eu faço, busco um local pra conhecer e explorar por meio da corrida”. Nesse sentido, Julia prefere as corridas de aventura off-road, pela integração com a natureza e porque a velocidade acaba se tornando um elemento secundário nestas provas. “Minha meta é terminar a prova, não chegar em primeiro, gosto de parar para registrar a paisagem e viver o momento e a experiência”, explica Julia.


Todavia, engana-se quem pensa que ela não acumulou títulos e honras nesta jornada: a última delas foi ocupar por três vezes o primeiro lugar no podium que a classificou para o mundial World Triathlon Edmonton, no Canadá, adiado no ano de 2020 em virtude da pandemia.


Em todas as provas de corridas realizadas por Julia ao redor do globo, uma característica é unânime: os desafios. Em Ushuaia, Argentina, o desafio foi correr sobre o gelo. No deserto do Atacama o desafio foi correr no deserto mais alto do mundo. No Saara, debaixo do sol mais quente do mundo. E no Peru, a meia maratona no vale sagrado dos Incas rendeu, além dos desafios da pouco explorada topografia da região, a descoberta de uma nova paixão: o montanhismo.


Julia aproveitou sua passagem por Machu Picchu, no Peru, para fazer o que poucos turistas se aventuram: escalar o Huayna Picchu, a montanha íngreme que é o cartão postal de Machu Picchu. “Foi uma experiência fabulosa chegar no cume da montanha e ver as ruínas de Machu Picchu por um ângulo que poucas pessoas conhecem, revelando uma verdadeira cidade milenar, muito mais organizada e completa do que a gente poderia imaginar possível naquela época”.

Depois desta experiência marcante, a paixão de Julia pelas alturas se tornou novo alvo dos seus destinos turísticos, a ponto de ela decidir vender todo o seu equipamento de paraquedismo para juntar fundos para viajar até a Tanzânia, a fim de escalar a maior montanha da África: o Monte Kilimanjaro. “Eu passei a pesquisá-lo quando li a seguinte frase em uma revista: ‘Kilimanjaro: onde pessoas comuns conseguem feitos extraordinários’. Também me apaixonei pela grande diversidade de micro biomas que encontramos nessa montanha: savana, deserto, neve, gelo e até floresta, é uma montanha muito rica”, conta Julia, emocionada.


Sua expedição para o Monte Kilimanjaro foi feita junto da amiga Cleodenice Padovesi e uma equipe de 13 nativos africanos, entre guias, cozinheiros e carregadores. “Para incentivar o turismo sustentável, o governo africano só permite que as pessoas subam no Kilimanjaro com guias locais, obedecendo regras muito estritas como 20 kg de peso no máximo por carregador”, explica Julia. Esta expedição levou 6 dias, sendo 5 dias de uma subida pausada, para adaptação do organismo à altitude de 5985 metros, e 1 dia para o retorno à base.


Aos seus destinos de grandes altitudes, Julia soma Índia, Nepal e Butão, todos países da região da cordilheira do Himalaia, sendo este último país conhecido por ter o povo mais feliz do mundo. É também no Butão onde fica o Mosteiro de Takshang, mais conhecido como Mosteiro Ninho do Tigre, famoso por estar cravado na montanha, a 3.120 metros de altitude. Depois de um Trekking Espiritual para o mosteiro, Julia nunca mais abandonou a Yoga.


De todos estes desafios e superações pessoais, Julia se orgulha muito da sua primeira maratona, principalmente pelas circunstâncias nas quais a prova foi completada... Em uma viagem para os países bálticos e nórdicos com as amigas, Julia descobriu que sua estada na Noruega coincidia com a prova Maratona da Grande Floresta da Noruega. Empolgada, ela convenceu sua amiga Renata Mestriner a correr apenas metade da maratona, e no meio do trecho dar a prova por terminada. Consultaram o mapa e até tiveram o cuidado de ligar para o personal trainer, que disse que elas seriam desclassificadas se desistissem da corrida no meio. “Tudo bem, é só pela aventura”. Como elas não tinham a maratona como plano da viagem, os trajes foram básicos – tênis, calça legging e camiseta – enquanto a maioria dos competidores estavam mega equipados para enfrentar a maior floresta da Noruega.


Chegados nos 21km, o sentimento já era de vitória quando elas foram buscar informação para pegar um taxi. Atônitos e achando muito engraçado, os oficiais da prova perguntaram se elas sabiam que estavam no meio de uma floresta. “Mas nós vimos no mapa da prova alguns carros neste ponto da corrida”, contra argumentavam. Mas os carros eram apenas um indicativo de que havia socorristas pelo perímetro. Depois de muito argumento, o máximo que podiam oferecer a elas eram bicicletas para elas terminarem a corrida. Por a prova ser em terreno realmente acidentado, inclusive com trechos de travessia em riachos e rios, elas decidiram que as bicicletas não ajudariam muito, e a grande decisão foi tomada: terminar a prova correndo.


Depois de mais de 5 horas de prova, Julia e Renata, sem planejamento algum, receberam o título de maratonistas.


Julia seguiu treinando para maratonas por anos, chegando a correr 150km por mês em preparação. Mas as lesões no joelho e quadril, naturais sobretudo em sua idade, a levaram a mudar seu foco para o Triathlon, já que este possui nado e pedal, duas práticas de baixo impacto nas articulações. Só havia um problema: Julia não sabia nadar e morria de medo do mar em águas profundas. Mas como superação é sinônimo de Julia Nakagawa, após três anos de treino ela foi, como já mencionado, classificada para o mundial no Canadá, sendo a única mulher a representar o Brasil na categoria +60.


Dizem que ser rico é ter tanto a ponto de poder doar. Julia Nakagawa é tão rica de vida, a ponto de transbordar e ela poder oferecer uma vida a melhor para muitas pessoas por meio do voluntariado. Julia doa todo o seu conhecimento na área bancária fazendo parte do Comitê de Credito da SGC (Sociedade de Garantia de Crédito), uma instituição sem fins lucrativos que ajuda micro e pequenos empreendedores a ter acesso mais fácil e mais barato a empréstimos quando este não tem um patrimônio para dar como garantia. Ela também é voluntária no Observatório Social de Maringá, o primeiro do país, integrando o Conselho Gestor junto de toda a diretoria voluntária. Ela também foi voluntária na Copa de 2014 e nas Olímpiadas do Rio em 2016. Quanta energia!











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