top of page

Elas fazem a festa

Nos tempos áureos do entretenimento social de Maringá, época movida por festas que deram verdadeiro significado ao termo “festa de arromba”, de Erasmo e Roberto Carlos, elas sempre estiveram presente: Denizete Ramalho e Rosi Ortega, duas personagens que marcaram história com produções que seguem insuperáveis. Como nossas convidadas, nos reunimos com elas em almoço no Fogo & Vino para reviver um tempo que não volta...


TEXTO VINÍCIUS LIMA FOTOS JOÃO PAULO SANTOS


Os novinhos de plantão não fazem ideia, mas muito antes da popularização da internet como um meio de comunicação e entretenimento social, na época em que a vida acontecia lá fora, Maringá ganhou grande notoriedade em território nacional, e não foi por causa das alamedas floridas, nem por causa de suas vias arborizadas, mas sim através do colunismo social e coberturas fotográficas de festas nababescas que foram parar até na Revista Caras.


Nesse tempo de ouro, em que o ver e ser visto não era algo tão simples como ligar uma câmera e transmitir no Instagram, quem ditava a regra do jogo eram duas personagens que monopolizaram a cena do entretenimento na cidade. Rosi Ortega e Denizete Ramalho. Rosi como a principal colunista social do principal jornal impresso da cidade, O Diário, em uma época em que a TV não tinha emissoras locais. Denizete, uma das promoters mais cobiçadas pelas casas noturnas da cidade, por seu grande poder de influência junto a um público extremamente qualificado. Quando as duas se conheceram e uniram forças (ou melhor, uniram seus mailings) Maringá se viu diante de uma dupla imbatível.


Em uma cidade como Maringá em que a exposição pública é importante ainda hoje, não apenas por uma questão comportamental, mas também como uma verdadeira fonte de potencializar negócios, podemos dizer que Rosi e Denizete promoveram e despromoveram pessoas, em uma época em que, repito, precedendo o boom digital, elas eram praticamente o único canal para aqueles que queriam galgar os passos do estrelato.


Na vida de Rosi Ortega, tudo começou quando, após concluir sua formação em Direito, ela foi trabalhar na câmara municipal como advogada. Naquela época a câmara era frequentada quase que diariamente por jornalistas, para assistir às sessões da câmara. Em constante contato com os jornalistas, Rosi acabou se tornando interina da Carmen Ribeiro, a então colunista social d’O Diário. Foi assim também que ela se tornou conhecida de Verdelírio Barbosa, dono do Jornal do Povo, que a convidou para assumir a coluna de seu jornal, no ano de 1994. A coluna de Rosi no Jornal do Povo fez muito sucesso, até ela aceitar o convite de Frank Silva para ir para O Diário em 1997 quando Carmen Ribeiro mudou-se para Londrina para ser colunista na Folha de Londrina cobrindo a região de Maringá.


“Eu lembro da minha primeira cobertura pelo Diário, entramos no carro timbrado do jornal eu e o fotógrafo Walter Fernandes, e fomos para Londrina fazer a cobertura de uma festa no Country Club, promovida por Alfredo Khoury. As festas dele eram de um nível tal que tinha dunas de areia e camelos de verdade na entrada da festa, cantoras do Líbano e uma decoração de cair o queixo. Naquele dia eu sabia que tinha encontrado o meu lugar”, relembra Rosi.


Tantas outras festas se seguiram a esta, em uma carreira no jornal que durou 13 anos. Tudo o que Rosi colocava em sua coluna, alcançava todos os estratos sociais, chegando em milhares de endereços de Maringá e região na manhã do dia seguinte, de terça-feira a domingo. De festas mega exclusivas para 18 convidados da Veuve Clicquot às de grande repercussão como as de Cássio Taniguchi em Curitiba, lá estava Rosi. Podemos dizer que o que não saiu em sua coluna, é como se não tivesse acontecido.


Tamanho poder traz junto grandes responsabilidades. Rosi se tornou uma mulher cobiçada e bajulada, ganhava presentes extravagantes como jóias e relógios rolex, mas também ameaças e muito ódio. “Chegou um momento em que apenas o segurança do jornal abria meus recebidos, porque eu já cheguei a receber até um caixão e isso me fazia muito mal”, lamenta Rosi.


Segundo ela, era impossível colocar uma cidade inteira dentro do espaço físico de uma página no jornal, com isso fatidicamente muitas pessoas ficavam de fora da sua cobertura, o que causava muita ira.


Os critérios jornalísticos e pessoais que Rosi usava para fazer sua cobertura é um mérito que não convém discutir. O fato é que, quem teve a oportunidade de ver sua coluna, concorda que a plástica visual sempre foi impecável. Do tom Rosé (que convenientemente remete ao nome da colunista) à qualidade das fotos expostas e layout, Rosi sempre foi hors concours (sim, naquela época era chic usar termos franceses em coberturas jornalística), conforme ela mesma explica: “diariamente chegavam centenas de fotos no jornal, de pessoas que queriam que eu colocasse na coluna, mas se a foto era mal feita eu não colocava, e quando o assunto tinha relevância eu contratava um fotógrafo e dava a foto de presente para a pessoa”.


Todo este asseio profissional levou Rosi a conhecer Orlando Ribeiro, o então diretor de fotografia da Revista Caras. Foi a oportunidade de ouro para que ele conhecesse o trabalho que Rosi fazia em Maringá. O resultado? Rosi transmitia diversas coberturas para Caras, que publicavam tudo o que o conselho editorial julgasse interessante. Foi assim que ela fez, por tantas vezes, Maringá brilhar também em território nacional.


Com tamanho poder de influência, Rosi passou a promover suas próprias festas, tendo recebido em seu aniversário personagens como a governadora Emília Belinati e o governador Jaime Lerner, e contratou presenças ilustres como os atores Gabriel Braga Nunes e Rodrigo Faro, a modelo Ellen Rocche e por aí vai…


Rosi confessa que todo este sucesso, vindo de toda essa exposição, trouxe sérios problemas de identidade para ela. “Quem é você de verdade? Eu me questionava. As pessoas estão comigo porque gostam de mim ou pelo que posso proporcionar? Se eu olhar para trás e fazer um balanço da minha vida, percebo que me expus muito e me tornei alvo, eu não sei se faria tudo de novo se pudesse voltar atrás”, desabafa. Mas Rosi entrou em um caminho sem retorno. A formação em jornalismo era algo previsto e natural. Ela cursou na Unicesumar, um presente oferecido pela família Matos.


Foi em uma cobertura que Rosi conheceu Denizete Ramalho, quando esta trouxe para o Cinema Café – badaladíssima casa de show da época – Tiazinha, a famosa dançarina do apresentador Luciano Huck.


O mundo dos eventos entrou naturalmente na vida e carreira de Denizete Ramalho. Tudo começou quando ela era estudante de Engenharia Química na UEM. Muito mais do que lidar com números, sua capacidade nata estava na comunicação e no relacionamento interpessoal. Não tardou para Denizete fazer amizade com a turma de agronomia e zootecnia, que tinham fama de serem os festeiros, e bonitos, da universidade. Dessa amizade construída, veio a ideia de fazer uma festa, sem o menor fim lucrativo, apenas para reunir os amigos e ouvir boa música.


Com o aparelho de som da sua própria casa e CDs alugados de locadoras, Denizete tocou em suas festas o que nunca tinha sido tocado em festas universitárias. “Eu sempre fui amante de boa música, de músicas alternativas, de bandas como New Order, Depeche Mode, Soft Cell, Craft, The Werg, U2”, enumera Denizete. O sucesso estava garantido, e a festa reuniu não apenas universitários, como também a galera da cidade. “Essa primeira festa bombou e despertou em mim o desejo de fazer mais eventos como aquele”. Tantos outros eventos seguiram-se àquele, inclusive na própria casa de Denizete, o que despertou o desejo das casas noturnas de tê-la como promoter. “Talvez quando eu fazia uma festa em casa, as baladas ficavam mais vazias, por isso quiseram me contratar”, brinca Denizete, para o riso de todos os presentes.


Seu primeiro trabalho como promoter foi no Kalahari e no Cinema Café, ambos da família Abrão, dois locais que, sem sombra de dúvidas, foram palco do maior cenário de festas sociais e baladas que Maringá já teve (veja matéria sobre a história da Kalahari na edição 5ª da Revista WIT).


Denizete permaneceu na Kalahari até esta fechar para reformas. Nesse período que tinha tudo para ser como férias, ela recebeu a proposta de trabalho de duas casas noturnas, a Due e o famoso Nite Club. Foi assim que ela entrou pro “Nite”, uma discoteca coladinha com o Car Wash, bar que dá nome até hoje para a Praça Manoel Ribas, conhecida como Praça do Car Wash. “Foi um tempo incrível em que as pessoas tinham o Car Wash para fazer o esquenta e depois ir pra balada do Nite, era completo”, explica Denizete.


Embora Rosi e Denizete tenham se conhecido no Cinema Café, foi no Nite Club que os laços se estreitaram e elas se tornaram amigas e parceiras na promoção de eventos. “A Rosi tinha um mailing fantástico e eu também, sem falsa modéstia. Juntas, nos tornamos imbatíveis”, confessa Denizete. De fato, com Rosi envolvida na divulgação e Denizete na produção, elas somaram forças catalisadoras. Foi explosivo. Juntas elas arrecadaram cifras inimagináveis através do patrocínio de marcas que queriam estar de qualquer forma associadas aos eventos. Bom gosto, boa música, gente bacana e dinheiro é combinação perfeita para fazer eventos perfeitos.


Juntas, elas levaram Vera Loyola, a maior socialite brasileira da época, e seu cachorro de estimação para um desfile no Nite Club. Essa festa rendeu simplesmente 3 páginas de cobertura na Revista Caras.


Há que se esclarecer que este relacionamento com a Caras fazia os artistas se sentirem muito mais confortáveis a vir para Maringá nas festas promovidas por elas. Com tantas presenças VIP em seus eventos, mais o sucesso das coberturas sociais, a receita perfeita estava formada, Maringá gozou de uma reputação sem igual lá fora, e com isso DJs renomados também vieram tocar nas festas da cidade, como o DJ Felipe Venancio, amigo da top model Naomi Campbell; e o DJ Rico Mansur, queridinho da noite paulistana e DJ da São Paulo Fashion Week.


E por falar em música, não podemos deixar de dar mais um mérito à Denizete. Foi ela quem trouxe para Maringá a música eletrônica que despontava nas noites de Londres e Ibiza. Não o eletrônico de modismos que conhecemos hoje, mas aquele eletrônico que surgiu como um movimento iniciado na França e que se tornou gênero musical com a popularização dos sintetizadores. Esse som rolava todas as quintas-feiras à noite, ano de 2002, na festa Evolution do Nite Club.


Quando perguntamos sobre como é a vida de quem vive de festas, Denizete é muito franca ao dizer que, por várias vezes em sua vida precisou se desligar, para se reconectar. “Me vi em dias que só o que eu queria era a presença da minha família, de repente em plena sexta-feira eu não queria sair de casa, eu precisava de tempo para recarregar minhas baterias sociais, porque se relacionar com tanta gente é gostoso, mas consome muita energia”.


A entrevista que deu origem a esta reportagem foi feita em um almoço regado pela gastronomia do restaurante Fogo & Vino. Rosi e Denis (como é chamada por Rosi) são amigas até hoje, e juntas relembraram o tempo em que se sentavam para planejar eventos que, na verdade, era não apenas um produto de sucesso e muito rentável, mas a oportunidade de uma Maringá se reunir, se expressar e se divertir. Quem sentiu a sensação de esperar pelo jornal da manhã de domingo, sabe o que foi glamour de verdade.






bottom of page