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Edson Yabiku

Nascido em Maringá em 1965, Edson Yabiku é o filho temporão, o mais novo, de Paulo e Sayoko Yabiku, neto de imigrantes japoneses que desembarcaram no Brasil na década de 1920 e que inicialmente se estabeleceram no Estado de São Paulo para trabalhar nas fazendas de café. A vinda de seus pais para Maringá foi também por conta da procura de uma oportunidade, uma vida melhor, e assim Paulo iniciou a tradição da família Yabiku, e todo o seu legado, na cidade de Maringá. Edson estudou em escolas públicas de Maringá durante toda sua vida escolar, até o dia em que mudou-se para Curitiba para, com o apoio da família toda, fazer cursinho e posteriormente ingressar na faculdade de engenharia civil, curso em que permaneceu por apenas um ano, pois seu objetivo real era a arquitetura, profissão que carrega consigo até hoje e por meio da qual levou Maringá para alguns dos mais arrojados projetos do mundo, tendo integrado por 25 anos o time da Foster + Partners, escritório de arquitetura britânico de grande renome internacional. Em meio à pandemia, ele montou seu estúdio em Maringá, batizado de Bridge Arquitetura, e desenvolveu juntamente com o irmão Wilson Yabiku e equipe da Construtora Design o projeto da Nova Sede do Sicredi União da cidade. Hoje temos um motivo adicional para nos orgulharmos deste brilhante maringaense: Edson, em parceria com Ricky Sandhu e equipe da Urban-Air Port, projetaram o primeiro aeroporto do mundo para aeronaves elétricas de decolagem e aterrisagem vertical, inaugurado em abril de 2022 na cidade de Coventry, Inglaterra. Trata-se do menor aeroporto do mundo, uma infraestrutura exclusiva para drones de cargo e carros voadores. Você conhecia Edson Yabiku? Então embarque nessa entrevista que ele gentilmente nos cedeu, via telefone, diretamente de Londres, Reino Unido.

TEXTO VINÍCIUS LIMA FOTOS ACERVO PESSOAL EDSON YABIKU, FOSTER + PARTNERS E URBAN-AIR PORT

[WIT] Edson, primeiramente, como a arquitetura entrou na sua vida? [EY] Ver meu irmão Wilson, fundador da Construtora Design, projetar e construir seus edifícios foi muito marcante para mim. Desde os 14 anos eu fazia estágio na empresa, e foi dele que aprendi a desenhar plantas e principalmente perspectivas que, naquela época, eram feitas a mão. Isso me deu uma base incrível e até hoje utilizo a técnica e conhecimentos que ele me passou. Nunca vou me esquecer das várias visitas à obra do Edifício Greenville em Maringá, uma torre de 40 pavimentos projetado e construído por ele, juntamente com sua esposa e sócia Leiko e equipe Design, a quem sou muito grato pela contínua inspiração. Já em Curitiba, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná, tive novamente a sorte de ter grandes tutores e mestres por perto como Roberto Gandolfi, Alfred Willer, José Sanchotene, Manoel Coelho, Luiz Forte Neto, José Vicente Socorro, e também Jaime Lerner, profissionais que fazem história na arquitetura paranaense e elevaram Curitiba à um patamar internacional de qualidade de planejamento urbano.

[WIT] Toda sua carreira tem sido internacionalizada. O que te levou para fora do país? [EY] Ao concluir os estudos em Curitiba e após um breve retorno à Maringá, eu aceitei um convite para trabalhar em uma construtora no Japão e embarquei em abril de 1989 rumo à Tóquio, onde acabei morando por 10 anos. Meu primeiro trabalho no Japão foi em um pequeno edifício chamado Nagatsuka Building situado na cidade histórica de Kamakura. Minha função na equipe incluía vistoria e inspeção, para assegurar que a execução estava fiel ao projeto, – incluía desenho de formas, filtrando as informações de todos projetos de arquitetura e engenharia em um desenho simples para a equipe de construtores, – e incluía também a limpeza, preparando o canteiro de obra para os trabalhadores na manhã seguinte. Foi uma experiência muito enriquecedora pois a pequena escala do edifício permitiu o meu envolvimento em todas as etapas de construção, e isso é muitíssimo importante para qualquer arquiteto. Ao fim da obra, tive a oportunidade de trabalhar no departamento de arquitetura da construtora, chamada Obayashi Corporation. Durante este período, fomos contratados para executar uma residência chamada Kawana House, assinada pela Foster + Partners. No início o meu chefe me pediu para participar das reuniões fazendo a tradução entre inglês e japonês, e eu expliquei que mal sabia falar japonês e que meu inglês era totalmente inadequado, mas por pura falta de uma alternativa melhor, fui incluído na equipe mesmo assim [risos]. Com o tempo me tornei uma ponte entre os arquitetos britânicos e ao final desse projeto fui convidado para trabalhar na filial da Foster + Partners em Tóquio, isso no ano de 1992.

[WIT] Uau! Com apenas 27 anos você entrou para o time da Foster and Partners… Você acredita que a mudança para a matriz em Londres foi um caminho natural? [EY] De certo modo sim, pois seguia o modelo de operação daquele estúdio, que centralizava todo processo de criação na matriz em Londres. Então era natural que, após a explosão da ‘bolha econômica’ japonesa em 1992 e subsequente recessão, decidimos fechar o escritório em Tóquio e relocarmos para Londres, que é onde resido até hoje. Eu acho muito interessante ter esse contato com culturas tão distintas como essas três, e poder olhar para minha origem brasileira por um ponto de vista estrangeiro – isso me faz sentir muito mais brasileiro do que quando morava aí. Imagine o valor que dou para um pastel de feira...

[WIT] Na Foster and Partners você se especializou em edifícios? [EY] No que diz respeito à projetos arquitetônicos, sou muito mais um generalista do que um especialista. Mas penso que isso é puramente um reflexo de minha própria personalidade, e também do ambiente de trabalho da Foster, aonde ao longo de 25 anos pude participar em projetos das mais variadas tipologias de edificações e desenho urbano, padrões de especificação, escalas, nos mais variados locais e situações climáticas e sociais. Um resultado positivo desta experiência foi aprender que todo projeto é único e, portanto, inicia-se em um papel em branco, sem ideias pré-concebidas.

[WIT] Quais tipos de projeto você já participou através da Foster? [EY] Tive a felicidade de participar em projetos com clientes muito visionários e com colaboradores incríveis, em vários países. Todos os projetos em que trabalhei foram especiais para mim, então é muito difícil selecionar, mas posso citar os seguintes. No Japão, participei em projetos como Kawana House em Izu, Century Tower em Tóquio e Kamakura House em Kamakura; na China, projetos como Jiushi Headquarters e Bund Financial Centre ambos em Xangai; a nova sede do Supreme Court de Cingapura; nos Emirados Árabes Unidos, Masdar Institute e Central Market em Abu Dhabi, The Index e Dubai Design District West Quarter em Dubai; Blue City em Oman; Villa Nenette em Monaco; Frost Amphitheatre em Stanford University nos EUA; Lusail Palace em Doha; The Forestias Masterplan em Bangkok; Manoel Island Masterplan em Malta; e Broklin Tower em São Paulo. Com o tempo, aprendi que o mais importante disso tudo é o relacionamento humano criado durante este processo – isso é o que realmente conta.

[WIT] Fala um pouco dos projetos em que está envolvido no momento. [EY] Após a jornada com Foster + Partners, estou iniciando o meu próprio estúdio, estabelecido em Maringá, para atender aos projetos no Brasil. Trabalhando sempre em colaborações, seja com a Construtora Design e arquiteta Daniela Yabiku de Maringá, Proa Arquitetura de Curitiba, ou Belluzzo Martinhão de São Paulo, meus projetos no momento incluem edifícios residenciais, comerciais, saúde, e masterplans de grandes áreas urbanas. Um projeto muito especial para mim é a Nova Sede do Sicredi União PR/SP, que está em fase final de construção em Maringá. O desenho totalmente voltado ao bem-estar dos usuários da cooperativa e do público local, sob um desempenho ambiental fenomenal, foi concebido em conjunto com Wilson Yabiku e sua equipe, e com plena participação do presidente Wellington Ferreira e sua equipe. Paralelamente a estes projetos no Brasil, participo também da equipe da Urban-Air Port daqui de Londres, que tem como objetivo criar um ecossistema de mobilidade urbana com emissão-zero, a fim de contribuir com a redução dos congestionamentos e poluição do ar dos centros urbanos. Trata-se de um aeroporto ultra-compacto mas com grande capacidade dedicado à drones de carga e à eVTOL de passageiros – sigla inglesa que significa Aeronaves Elétricas de Decolagem e Aterrisagem Vertical – algo parecido com um helicóptero elétrico com asas e hélices múltiplas. O primeiro protótipo foi recentemente construído na cidade de Coventry na Inglaterra e foi muito bem recebido. [WIT] Vocês previam a popularização dos carros elétricos quando iniciaram este projeto? [EY] O desenvolvimento de eVTOLs e drones de carga já ocorre à vários anos no mundo inteiro, e atualmente existem mais de 400 empresas desenvolvendo alguma forma de veículo elétrico voador para transporte de pessoas, empregando bilhões de dólares de investimento. Mas é interessante ver que pouquíssimos se preocupam em pensar na infraestrutura necessária para todas estas aeronaves. Imagino que uma das principais preocupações de aeronautas como Santos Dumont seria, antes de levantar vôo, saber aonde pousar. Foi este entendimento que levou Ricky Sandhu a criar a ideia do aeroporto compacto. A importância de ser ultra-compacto e com grande capacidade é enorme. Somente assim teremos a chance de localizar nossas unidades em áreas urbanas aonde se encontram os maiores problemas de congestionamento e poluição; somente assim poderemos oferecer infraestrutura com baixo custo para permitir preços de passagens acessíveis à toda população; além disso, poderemos oferecer abrigo, tratamento e conectividade para comunidades isoladas devido à desastres e situações emergenciais.


[WIT] Tudo isso é fascinante. Quem passou a infância assistindo os Jetsons jamais imaginou que estaria tão próximo de viver aquela realidade… E o que podemos esperar de Edson Yabiku para o futuro? [EY] Sobre o futuro, somente sei que desejo continuar trabalhando e sempre aprendendo. A pandemia nos trouxe muita dor e sofrimento, mas também nos trouxe uma oportunidade única de enxergar, e com muita clareza, que somos todos iguais, vulneráveis, e que precisamos de um aperto de mão e daquele abraço apertado. O meu estúdio foi estabelecido durante este período turbulento, e carrego a missão de criar projetos que possam inspirar pessoas a se conectarem entre si, se conectarem com a natureza, e também se conectarem consigo mesmos. Desejo realizar projetos ‘exclusivamente inclusivos’. Por isso batizei o estúdio com o nome ‘Bridge’, por justamente refletir este pensamento. Em inglês, a palavra ‘Ponte’ vai além do objeto em si, sendo utilizado também como um verbo, indicando a ação da travessia. O nosso planeta está implorando por nossas ações. Eu quero deixar de ser somente um passageiro desta espaçonave Terra e me tornar um de seus tripulantes, assumindo a responsabilidade da limpeza e preparação para quem vem depois, assim como aprendi fazer no Nagatsuka Building.























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