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Clã Egoroff


TEXTO VINÍCIUS LIMA FOTO ELIANDRO CORREA


Sabe aquela cena emblemática de abertura do filme Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's) em que o táxi que conduz a atriz Audrey Hepburn estaciona em frente a uma loja Tiffany para que esta possa seguir caminhando para sua casa após apreciar as belíssimas vitrines? Sim, esta cena provou há mais de 60 anos que classe e autenticidade sobrevivem ao tempo.


Classe não é aparência, classe é qualidade, não é o que se veste, é o que vem de dentro e, de alguma forma, transborda... Quem conhece Magda Egoroff sabe que tal definição é personificada nela. Dona de uma postura ímpar, um sorriso generoso, um abraço sempre presente e uma comunicação extremamente polida, Magda alçou o posto de referência na cidade quando o tema é moda.


Proprietária da boutique Aklo, engana-se quem pensa que a moda foi a porta de entrada para a elegância na vida e cotidiano de Magda. O gosto apurado e olhar criterioso começou através do universo da decoração, uma aptidão herdada de sua mãe, Maria Cleo, que inclusive teve a primeira loja de decoração de Maringá, a Aklo Presentes. Impecável em sua conduta, amante de arte, bordados, mesa posta e jardins floridos, Manê – como é carinhosamente chamada por seus netos – é até hoje um farol para toda sua família, um berço onde o bom-gosto e a sensibilidade para o belo desperta em cada um de forma extremamente particular e único.


Na capa desta edição da WIT, uma edição marcada pela feminilidade de março, o mês da mulher, reunimos três dos frutos de Manê: a filha Magda e as netas Tati e Sophia. Em um ensaio fashion pra lá de descontraído, clicado pelo fotógrafo Eliandro Correa e banhado por uma torrencial chuva (de bênçãos) em uma noite de sexta-feira, eternizamos na capa três semblantes que revelam uma profundidade de vivências e experiências que não caberão nos escassos caracteres desta reportagem.


MAGDA

Magda tinha 16 anos quando ingressou na faculdade de Direito e 17 anos quando casou-se na capela de Nossa Senhora do Brasil, a mais concorrida de São Paulo, trajando um autêntico Clodovil, um vestido absolutamente deslumbrante em sua simplicidade. Desprovido de pedras ou de rendas, a peça é guardada como tesouro por Magda até hoje. Para mim, uma grande evidência de que muito jovem já sabia, sim senhor, o que é bom e o que prevalece. “Eu só posso oferecer o melhor dentro do meu ofício se eu conhecer o que é bom”, declara Magda.


Por ocasião de seu casamento, ela mudou-se para Portugal onde continuou seus estudos em Direito na cidade de Coimbra. Um ano depois, deixou o curso para dedicar-se à maternidade. Nascia Tatiana, sua primeira filha. Foram 3 anos desta primeira estada em terras lusitanas. O retorno para o Brasil foi marcado pelo nascimento da segunda filha, Sophia, e pelo despertar de um dom que ela não conhecia: o do comércio.


Neste retorno ao Brasil, Magda desembarcou em Maringá, de onde havia saído aos 10 anos de idade, junto da família, para morar em São Paulo. De volta à terra natal, Magda foi trabalhar na loja da mãe, Aklo Presentes, onde descobriu que sua verdadeira vocação é o atendimento ao público. Ela ficou por aqui apenas 1 ano e 10 meses e voltou para Portugal, permanecendo por mais 7 anos, onde deu à luz seu terceiro filho, Rafael, hoje um médico cirurgião torácico, e onde finalmente iniciou o ofício que carregou por toda vida: vestir pessoas com elegância.


De onde veio esse impulso para empreender com moda, ela não sabe. Talvez tenha somado sua aptidão para o vestir-bem com a recém descoberta aptidão para se relacionar com o público. O fato é que seu início foi marcado por 50 dólares para comprar tecido em uma feira de Portugal, quando noções de medida eram completamente desconhecidas por ela, uma história publicada em vídeo em seu instagram, @aklostore, que vale a pena assistir. “Tudo o que eu tinha era uma costureira e um desejo imenso de criar modelos para vender para as amigas”, relata.


Lá em Portugal as peças eram sob medida, no Brasil, nunca chegou a trabalhar nessa modalidade. Ela abriu seu CNPJ em 1992 para vender vestidos em casa, com um atendimento per-so-na-li-za-do, o mesmo que oferece até hoje na loja que recebeu o endereço da Av. Cerro Azul 468, em 1997 e lá permanece até hoje. “Quando uma amiga diz que precisa de um vestido pra uma ocasião e que vai trazer seus acessórios pra eu ajudar a compor o look, eu falo ‘traga tudo o que você tem!’, eu simplesmente adoro vestir e produzir outras mulheres”, fala animada. Lembrando que sua irmã, Ligia Egoroff, tem uma linha de acessórios chamada Aklo Acessórios na mesma loja de Magda.


Com avós maternos gregos e avós paternos russos em sua árvore genealógica, Magda acredita que o dom comercial corre em suas veias. Sua ascendência é marcada também pela força de Maria Cleo, que foi sozinha para São Paulo levando consigo 5 filhos, para administrar suas fazendas, negociar soja e gado, sem fechar a loja de Maringá, a qual gerenciava à distância em uma época em que o termo “internet” não estava presente nem mesmo na ficção científica. “Meu maior exemplo é minha mãe, ela é a mulher mais otimista, forte e sábia que eu conheço”.


TATI

A primogênita de Magda, Tati Egoroff, sente que o olhar sensível para apreciar o belo vem de gerações. A avó Manê sempre teve bom-gosto nato para as nuances da vida, e transferiu isso impecavelmente. Magda, mãe de Tati, usou esses ensinamentos na área da moda e trouxe esse universo para a vida das filhas. Tal qual sua mãe, Tati canalizou todo essa sensibilidade para o universo da moda, se tornando uma pesquisadora incansável sobre o universo fashion, inclusive colaborando diversas vezes para a WIT na produção de conteúdos sobre tendências.


Não poderia ser diferente, afinal, em sua tenra infância em Portugal, onde viveu até os 10 anos, seu playground era no ateliê da mãe. “Eu amava brincar de vestir minhas barbies com os retalhos que eu conseguia pegar no ateliê, onde eu passava horas criando e compondo”. Outra brincadeira favorita da pequena Tati era desenhar croquis copiando a punho os que ela encontrava nas revistas especializadas da mãe que, segundo seu relato, eram centenas, uma verdadeira biblioteca de magazines.


Diferentemente do que muitos podem pensar, Tati Egoroff, em seu jeito impecável de ser, é, além de tudo, muito humana. Tati sempre encarou seus trabalhos com a moda de forma profunda e artística, como se fossem roteiros de filme, e ela, várias personagens ao longo dos diferentes trabalhos que realizou, sendo sempre sinônimo de diversão e uma forma de externar sua criatividade. Esse olhar se estende também para a vida, onde ela busca trazer um pouco de mágica para seu cotidiano através de pequenos detalhes, como uma boa música, acender uma vela e estar perto de quem ama.


Hoje com 40 anos de idade, Tati acredita ter alcançado uma das melhores fases da sua vida, um estado de plenitude mental que somente a experiência poderia ter ensinado. “A Tati de 40 anos pode não ter mais tanto colágeno na pele, mas eu jamais trocaria a Tati de 40 pela Tati de 30 ou de 20, estou muito mais leve e pronta para fazer escolhas fiéis à minha essência”.


Valorizar e amar sua própria essência é, em outras palavras, valorizar e amar a própria singularidade, aquilo que você tem e ninguém mais. “O mundo está vivendo em um momento de grande paradoxo, porque todo mundo diz que você tem que ser você mesmo, e ao mesmo tempo apresenta através das redes digitais realidades artificiais que são aplaudidas por todos”, declara sabiamente Tatiana.

E na moda, como respeitamos a própria essência e singularidade? Para Tati, neste mundo marcado pelo consumismo extremo, o que faz sentido para ela é mirar em mulheres ícones de todos os tempos, como Jac Onassis, Sophia Loren, Lady Di, Audrey Hepburn… “Tudo o que elas vestiram, nunca saiu de moda”.


SOPHIA

No mundo de Sophia (perdoe o trocadilho), a expressão do belo ganhou outra forma: as artes plásticas. Ela não lembra, mas sua mãe conta que aos 2 anos já gostava muito de desenhar. Do trio, ela com certeza é a que conserva uma personalidade mais introspectiva, “mais na minha”, como ela mesma descreve. “Durante minha vida toda usei a arte para exteriorizar que eu não conseguia pôr em palavras”.


Se a arte de Tati é uma explosão para fora, a da Sophia é uma explosão que vem de dentro. Ela curte mesmo colocar seus fones de ouvido e passar horas pintando, criando e idealizando um mundo a parte na superfície do papel ou da tela.

A aptidão pelo desenho a levou a cursar arquitetura, profissão que exerceu durante 9 anos, quando rolou a tal crise dos 30. “A arquitetura exige senso estético, de espacialidade e muita técnica, mas a realidade entre computador e obra começou a me incomodar, eu sentia falta do processo orgânico da pintura”, explica. A oportunidade de viver exclusivamente da sua arte aconteceu por obra do destino…


Certo dia decidiu pintar uma grande árvore na parede do quarto dos seus filhos e postou no instagram. Logo uma amiga pediu para que ela pintasse um grande balão no quarto da sua filha. Seus murais ganharam grande repercussão e logo surgiram diversos pedidos de encomendas. Seu portfólio pode ser conferido no Instagram @arterya.art


Hoje, além dos famosos murais, Sophia também ensina pintura em tela no seu ateliê Art Lab, e cursa Terapia Artística Antroposófica em Santa Catarina, um método que usa a arte como medicina. “Durante toda minha vida a arte me curou, por isso tive desejo de fazer esta especialização que é fantástica, onde aplico técnicas artísticas para ajudar as pessoas a se realinharem internamente, porque a arte entra no nosso inconsciente pela porta dos fundos, atuando diretamente no ponto a ser equilibrado”, explica entusiasmada.


Ao sermos recebidos em sua casa para a entrevista e fotos que ilustram essa matéria, encontramos pinturas em tinta acrílica, aquarela e até mesmo nanquim. Três elementos são predominantes em suas criações: o corpo feminino, os animais e as plantas, que se traduzem em uma coisa só: a natureza, muitas vezes alinhada à geometria sagrada, tão presente no mundo ao nosso redor. “Meu maior objetivo com a arte é trazer harmonia para a vida das pessoas”.


Ao final dessa jornada de entrevistas com as Egoroffs, percebo que não é apenas na arte e no belo que mãe e filhas são unas. Todas elas são movidas por uma intensidade muito grande de emoções, de pensamentos, de alegrias e também de tristezas. Ver o mundo sob uma ótica mais sensível acaba trazendo uma intensidade de vivências que, para o lado negativo, detalhes podem se transformar em grandes enredos, conferindo um tom dramático e até difícil em certas situações. "Vivemos com muita intensidade, mas o ônus não apaga o bônus, gostamos de ser assim e não trocamos de forma alguma", conclui Tati.


Ao final dessa jornada de entrevistas com as Egoroffs, percebo que não é apenas na arte e no belo que mãe e filhas são unas. Todas elas são movidas por uma intensidade muito grande de emoções, de pensamentos, de alegrias e também de tristezas. Ver o mundo sob uma ótica mais sensível acaba trazendo uma intensidade de vivências que, para o lado negativo, detalhes podem se transformar em grandes enredos, conferindo um tom dramático e até difícil em certas situações. “Vivemos com muita intensidade, mas o ônus não apaga o bônus, gostamos de ser assim e não trocamos de forma alguma”, conclui Tati.




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