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Cilinho Tortola

"Os prêmios da vida estão no fim de cada jornada, não próximos do começo"

— Og Mandino



Bem ao final da Estrada da Fruta, localizada às margens da BR 376, saída de Maringá para Paranavaí, encontramos um grande edifício de linhas retas e fachada envidraçada que contrasta majestosamente com a paisagem rural de seu entorno. Ali fomos recebidos por Ciliomar Tortola, por todos conhecido como Cilinho, sócio fundador da empresa que iniciou em Indianópolis/PR com uma pequena granja de criação de frangos para hoje se tornar a sexta maior indústria do mercado avícola do país, com mais de 10 mil colaboradores diretos e uma produção diária de mais de 600 mil aves, que chegam a mais de 120 países.


No interior do edifício, ricamente banhado pela luz do sol, um lago de carpas faz o entretenimento de quem espera no ambiente de recepção. Uma ideia do arquiteto Edson Cardoso, que concebeu um prédio com estações de trabalho integradas e sem paredes, uma configuração vanguardista até mesmo para os dias de hoje.


Cilinho nos recebeu com uma simplicidade que em nada denota a grandiosidade do império GTFoods. “Então são vocês que me fizeram colocar uma camisa hoje?”, brinca Cilinho quando entramos em sua sala. Segundo ele, seu traje diário é camiseta e calça jeans. Inevitavelmente, me recordo da música Freedom, de George Michael, que diz “Sometimes the clothes do not make the man” – “às vezes as roupas não fazem o homem”, na tradução livre.


Desprovida de quaisquer adornos e dos convencionados símbolos de poder como mármore, tapeçarias e lustres, a sala presidencial de Cilinho tem mesa de fórmica, paredes brancas, uma estante com os diversos títulos e premiações conquistados ao longo da jornada, e uma vista privilegiada para um de seus abatedouros. No chão, uma caixa de engraxate se torna ponto de partida de uma conversa que se estendeu da manhã até o almoço.

 

SIMPLESMENTE UM INÍCIO

Filho de dona Natalina Sette e seo Arcino Tortola, Cilinho é o caçula de 5 filhos, 3 homens e duas mulheres. Quando nasceu, porém, seus dois irmãos mais velhos já tinham tomado seus rumos, fazendo de Cilinho e seu pai os únicos homens da casa.


Daquela infância, Cilinho se recorda da escassez de suas circunstâncias. Moravam em uma pequena casa de madeira, chão de tábua, e no dia a dia Cilinho usava apenas um shortinho feito por sua mãe com saco de açúcar fervido. “Ela fervia o saco de açúcar de modo que o tecido ficava branco como lã, ela colocava um elástico e assim eu saía para trabalhar com 7 anos de idade”.


O ímpeto para o trabalho começou cedo na vida de Cilinho, não por hobby, mas como necessidade para auxiliar no orçamento doméstico. A caixa de engraxate que traz consigo até hoje foi a sua primeira ferramenta de trabalho. Ele conta que, ao final do dia, apresentava para sua mãe todo o dinheirinho arrecadado, e ela fazia a gestão separando o necessário para fazer a reposição do material de engraxate quando faltava, deixando a caixinha sempre pronta.


Além de engraxate, Cilinho abraçava diversas oportunidades de trabalho: vendia vela e flores na época de Finados, vendia sorvete no campo de futebol e nas ruas, fazia balainho de café e assim por diante. “Nunca tive vergonha de vender nada”, declara.


Com 14 anos de idade, Cilinho entrou para aprender datilografia, conquistando depois o seu primeiro registro na carteira de trabalho, no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Indianópolis, presente até hoje na Av. Felisberto Nunes Gonçalves, 29. “Com meu pequeno salário, comprei a primeira TV da minha mãe, parcelada em 24x na Pernambucanas. Foram dois anos que eu não pude gastar um centavo fora do orçamento”, recorda ele.


Com 18 anos Cilinho começou a trabalhar no Banco Bamerindus, onde fez carreira como bancário até 1990. Neste caminho, tentou por 8 vezes concluir a faculdade de administração, mas sem sucesso, porque o banco o transferia constantemente para diversas cidades, a maioria das quais não tinha faculdade próxima. “Eu já morei em muitas cidades através do banco, mas não importa quão longe eu fosse, a cada 15 dias eu sempre voltava para visitar meus pais, pagar as contas de casa e cuidar para que nada faltasse para eles”.


Essa generosidade de Cilinho para com sua família é um dom que carrega consigo até hoje. Após realizar o sonho de construir uma casa em alvenaria para seus pais em Indianópolis, eles encerraram sua jornada nessa vida 5 anos antes de a GTFoods abrir o mercado exterior para exportação. Sua mãe partiu em dezembro dos anos 2000, aos 77 anos em uma manhã comum, enquanto assistia à missa pela televisão. “Ela só fechou os olhos, recostou a cabeça no sofá e partiu ainda com o rosário nas mãos”. Menos de 60 dias depois despediu-se do pai, por quem conservava grande apreço e afinidade.


Em seus últimos dias, Arcino sofreu diversas complicações decorrentes do tabaco, chegando a perder ambas as pernas. “Em seu leito, eu saía da GTFoods três vezes por semana para ir até Indianópolis dar banho no meu pai e fazer curativo em suas feridas”. Com os olhos marejados, Cilinho diz que nunca se esqueceu das palavras do pai em seus últimos dias: “Eu tenho cinco filhos, mas um é diferente”.

 

G DE GONÇALVES, T DE TORTOLA

Cilinho conta que por muitas gerações sempre houve uma grande amizade entre a família Gonçalves e a família Tortola na cidade de Indianópolis. Rogério Gonçalves, seu sócio e fundador da GTFoods, foi nada menos que seu vizinho, um verdadeiro amigo de infância de Cilinho. “Minha mãe era zeladora na escola onde a mãe de Rogério era diretora, então Rogério e seus irmãos sempre ficavam lá em casa aos cuidados da minha mãe quando os pais do Rogério precisavam sair”, diz Cilinho. Dentre as irmãs de Rogério, a Luciana acabou se tornando esposa de Cilinho, com quem tem 2 filhos, Rafael e Leonardo.


Foi a convite de seu grande amigo que Cilinho decidiu abandonar a carreira de bancário para entrar no mercado aviário. Rogério já tinha uma granja e certa experiência na criação de aves quando Cilinho retornou à sua cidade natal e, com o dinheiro do acerto com o banco e outras reservas feitas ao longo da vida, comprou uma chácara de 1 alqueire com 4 aviários com capacidade de 5 mil frangos cada. Era o ano de 1990.


Na época, Cilinho e Rogério não faziam a menor ideia aonde seus negócios iriam levá-los. A produção de cerca de 20 mil aves era destinada a pequenas avícolas da região. Dois anos depois, numa virada no mercado, as avícolas resolveram iniciar a própria criação das aves a serem abatidas, afetando, assim, o seu negócio. “Passamos um sufoco, porque as avícolas se tornaram autossuficientes, não compravam mais, e perdemos mercado”, diz Cilinho. Com isso, da venda de frangos vivos, eles passaram para o abate manual, que inicialmente foi de mil aves por dia.


Cilinho colocava literalmente a mão na massa, conforme ele mesmo relata: “a gente comprava, abatia, vendia e ainda saía de Kombi para fazer as entregas”. Uma batalha árdua de dois cunhados que prosperaram e transformaram a empresa na GTFoods.


Estando hoje Rogério com 52 anos e Cilinho com 60 anos, por mais de uma década eles vêm trabalhando na sucessão dos negócios para os filhos. Cilinho é atualmente presidente do conselho, mas quem preside as operações é seu filho Rafael, junto de Vinícius, filho de Rogério, como vice-presidente. “O conselho que dou ao meu filho é: brigue com sua esposa, mas nunca brigue com seu sócio; quem tem sócio, tem patrão”, diz Cilinho.


Dos valores que quer transmitir aos seus filhos, Cilinho enumera: “dedicação, determinação, persistência e retidão no que faz; servir ao próximo e cuidar desses 10 mil colaboradores como verdadeiros membros da família”.


Sobre o futuro, ele afirma: “nosso frango é a proteína mais barata e estamos aqui para alimentar o mundo”.







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