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Cabeça no lugar

Batidas, pancadas e movimentos bruscos da cabeça podem gerar traumas cerebrais classificados como concussão, que podem levar ou não à perda de consciência, mas que necessitam de acompanhamento e cuidados específicos

por Dr. João Vitor Oblanca, CREFITO/8 206377-F


Uma Concussão é um tipo de traumatismo crânio encefálico leve, mas que pode ter efeito duradouro no tecido encefálico e causar alterações no equilíbrio químico do cérebro, levando a disfunções ou distúrbios físicos e cognitivos, restringindo habilidades motoras ou até mesmo levando a uma mudança comportamental a curto ou longo prazo.


Muito comum principalmente entre os jogadores, a concussão pode vitimizar qualquer pessoa que sofra uma pancada na cabeça, seja um jogador de futebol que vai cabecear a bola e bate na cabeça de outro jogador, ou até mesmo um idoso que cai e bate a cabeça no chão. Somente nos Estados Unidos uma pesquisa aponta que entre 1,3 a 3,8 milhões de pessoas sofrem concussão todos os anos.


Mas o que acontece dentro da nossa cabeça em uma concussão? Nosso cérebro é um órgão que comanda todos os outros órgãos. Apesar desta grande importância, ele é um órgão extremamente frágil, tem a consistência mole de uma gelatina e fica localizado dentro de uma caixa óssea dura (o crânio), suspenso pelo líquido cefalorraquidiano. Quando uma pessoa sofre um deslocamento violento ou uma pancada na cabeça, o cérebro se desloca dentro do crânio e colide contra as paredes que o protegem, causando uma mudança imediata na função e química do cérebro.


Nem toda concussão leva a um desmaio ou perda de consciência. Os sintomas variam conforme a região do cérebro mais afetada, sendo que os principais sintomas podem ser dor de cabeça, confusão mental, falta de coordenação, dificuldade com equilíbrio, perda de memória, náuseas, vômitos, tonturas, sonolência, zumbido nos ouvidos, sensibilidade à luz ou som, visão dupla, fadiga excessiva e diversos outros sintomas de alteração neurológica. Há também aqueles sintomas de ordem cognitiva e que podem ser percebidos a longo prazo, como uma perda de desempenho escolar, alterações do humor ou da própria personalidade da pessoa, dificuldade de concentração, estresse e irritabilidade.


Assim como os sintomas estão encaixados em um espectro muito amplo, pois são determinados pela região afetada do cérebro, o tratamento e tempo de recuperação também estão condicionados a diversos fatores, principalmente a severidade da lesão e a idade do paciente.


O que é mais importante de ser compreendido é que qualquer pessoa que bata a cabeça, desde uma criança a um idoso, é algo sério. O primeiro passo é ir a um hospital e fazer exames de imagem para detectar se não há lesões graves. Posteriormente, é importante analisar os sintomas, descansar e restringir as atividades para que o cérebro se recupere melhor. Isso significa reduzir atividades físicas, socialização e até mesmo tempo de exposição a telas.


Quando este período de resguardo é ignorado (o que ocorre diariamente nos campos de futebol, diga-se de passagem), o risco de uma síndrome de segundo impacto é muito grande. Esta crise ocorre quando qualquer pessoa bate a cabeça pela segunda vez em um intervalo menor do que o necessário para a recuperação cerebral. Quando isso ocorre, a pessoa tem 100% de chance de uma lesão permanente e 50% de chance de vir a óbito.


Os exames de imagem podem não mostrar as disfunções químicas causadas por uma concussão, por isso, após a liberação médica, se os sintomas persistirem, é importante buscar profissionais como um fisioterapeuta que vai estudar os sintomas e iniciar um programa de recuperação e reabilitação, devolvendo aos poucos o paciente às suas atividades normais.


Dependendo do tipo de lesão e de sintomas, este trabalho de reabilitação pode ser feito de forma multidisciplinar, com outros profissionais, como psicopedagogos, psiquiatras, neurologistas, fonoaudiólogos e psicólogos.


Se possível, evite concussões, evite comportamentos arriscados e seja prudente. Os cientistas têm comprovado que pancadinhas leves, chamadas de subconcussões, que não têm potencial imediato de gerar sintomas, quando frequentes podem levar ao que os cientistas estão chamando de encefalopatia traumática crônica, que nada mais é do que o envelhecimento precoce do cérebro.




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