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ALMODIN & ALMODIN

Da fertilização à visão, um caminho em comum: dar vida nova a novas criaturas.


TEXTO VINÍCIUS LIMA FOTOS JOÃO PAULO SANTOS

Responsáveis pelo desenvolvimento de inúmeras pesquisas e avanços científicos em suas áreas de atuação, muitas delas reconhecidas em convenções internacionais, os doutores Edna Almodin e Carlos Gilberto Almodin são, também, um casal que usa a medicina como ferramenta para um nobre propósito: dar vida nova às pessoas.


Seus caminhos e seus propósitos se cruzaram há muitos anos, quando ainda estavam nas cadeiras da graduação em medicina na Universidade Estadual de Montes Claros, onde se conheceram em 1975. Edna e Gilberto fizeram diversos trabalhos juntos, inclusive o então chamado Estágio Hospitalar, que consistia em duplas de estudantes ficarem responsáveis por um leito do hospital e, consequentemente, por qualquer paciente que venha a se internar ali. O primeiro paciente que Edna e Giba (como é carinhosamente chamado por ela) cuidaram juntos sofria de Cochocor e Marasmo, um estado de desnutrição tão avançado que o paciente não consegue nem mesmo se alimentar. O jovem recebeu alta após 6 meses de muita dedicação e cuidado. “Quando conseguimos retirar as sondas e ele voltou a comer, ficamos tão felizes que levávamos comida para ele com o dinheiro de nossas mesas”, conta Gilberto, que explica que foi a primeira vez que provaram juntos a gratificante sensação de poder ter feito algo a alguém. Contudo, em seguida veio também uma grande lição.


Oito meses após essa experiência, eles reencontraram o mesmo rapaz no mesmo hospital, mais uma vez desnutrido, em um estágio quase irrecuperável. “Percebemos que não basta tratar a doença, precisamos tratar a pessoa. Se você não tiver uma noção clara do ser humano por detrás do paciente, seu trabalho nunca será completo”, conclui Edna. Desde então eles conservam uma relação muito especial com seus pacientes. Ela no campo da oftalmologia, ele no campo da reprodução humana.


Gilberto Almodin é um dos primeiros brasileiros a iniciarem estudos sobre reprodução humana no país, em uma época em que não havia nenhum grupo de estudos e muito menos especializações na área. De fato, tudo começou em uma noite de domingo quando uma notícia exibida no programa de televisão Fantástico o impactou de forma definitiva. A notícia era sobre Louise Brown, o primeiro bebê de proveta nascido na Inglaterra em 25 de Julho de 1978. A dificuldade em acessar as pesquisas inglesas o fizeram dar início às suas próprias investigações científicas. As descobertas e os avanços empregados pelo Dr. Gilberto Almodin foram tantas que o levaram, inclusive, a fundar a Ingámed Materiais Médico Hospitalares, empresa que fabrica toda espécie de utensílios utilizados em laboratórios de fertilização in vitro em todo o país. Outro grande mérito foi a criação da técnica de transplante de ovário, desenvolvida em Maringá e que hoje é aplicada no mundo todo em mulheres que sofrem de falência ovariana precoce, ou em outros termos, que entram precocemente na menopausa. “Hoje já temos uma autorização do Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) para iniciar uma outra pesquisa que poderá usar células tronco para recuperar a capacidade ovariana”.


Muita coisa mudou desde aquela época, quando o Dr. Gilberto foi criticado por seus colegas de profissão que não acreditavam que haveria campo para a medicina de reprodução humana. Quase 42 anos depois, vemos no mundo uma taxa de pacientes inférteis nunca antes registrado pela medicina. “As causas são multifatoriais, mas talvez o principal agravante seja que as mulheres estão planejando a gravidez cada vez mais tarde. Tanto que aconselhamos todas as mulheres acima de 30 anos, que ainda queira ser mãe, a congelar seus óvulos”, adverte Dr. Gilberto.


O valor de fazer ciência, e não apenas medicina, é contagiante nesse casal. Edna, dentre muitas outras coisas, é responsável por trazer o primeiro laser de cirurgia de miopia para Maringá. Na década de 1990. Ela percebeu que muitos dos pacientes míopes possuíam essa deficiência como consequência de um outro mal chamado Ceratocone. Os pacientes portadores desse problema primária não podiam receber a cirurgia de miopia. Na busca de uma solução para estes pacientes, Edna se integrou ao grupo de estudos liderado pelo Dr. Paulo Ferrara. Eles, juntos dos doutores Pedro Paulo Fabre e Rosangela Aparecida Simoncelli foramam a comitiva que deu origem ao Anel de Ferrara, que hoje tem 24 anos, foi em 2004 regulamentado pela Anvisa e agora é usado no mundo todo com resultados fantásticos para o tratamento de miopias secundárias ao tratamento de ceratocone.


Outro progresso que merece ser registrado está no campo das cirurgias de altas miopias. Antigamente o laser corrigia somente até 10 graus de miopia, até que na Holanda o Dr. Jan Worst (1928 – 2015) desenvolveu a lente Artisan para o tratamento de catarata, e que se mostrou extremamente eficaz no tratamento de miopia. Após desenvolver um grupo de estudos no Brasil para as lentes Artisan, ela passou a ser implantada em Maringá desde 1999. Com a morte do Dr. Worst, sua esposa assumiu a fabricação das lentes, e no ano passado a Dra. Edna foi convidada a receber, na Holanda, uma homenagem por ter sido a primeira mulher no mundo a fazer um pedido de lente Artisan.


Edna Almodin é Fundadora do Banco de Olhos de Umuarama e recentemente foi convidada para presidir a SOB (Sociedade Brasileira de Oftalmologia). Ela chega todos os dias às 08h em seu hospital e sai às 20h. Eles aproveitam a proximidade física de seus consultórios para almoçar juntos ali no hospital mesmo, e se ver nos raros momentos de folga.


Dizem que medicina é um sacerdócio, pelo grau de doação que a profissão envolve. Para Gilberto, toda profissão é um sacerdócio, se ali você coloca o seu coração. “Enquanto a maioria das profissões tem como objetivo o êxito econômico, dificilmente você vai transpor fronteiras em medicina se o objetivo for apenas financeiro. Nosso objetivo nunca foi o lucro, foi fazer ciência, mas a recompensa financeira vem naturalmente quando se faz com paixão”, declara emocionado.



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