Nascida em meio a tecidos e vestidos, Tatiana Egoroff incorporou na infância o fascínio pela moda, dando a esta notas de dramaturgia e criatividade em produções autorais – dignas de capa – que contam histórias e criam personagens por meio da fotografia
Nascida em Sintra, Portugal, de pais brasileiros, Tati Egoroff cresceu ao sabor da cultura da península ibérica, onde viveu até os 10 anos de idade. Dessa remota infância, a principal lembrança são as brincadeiras em meio a tecidos e aviamentos do ateliê de sua mãe, Magda Egoroff. “Como toda menina, eu amava a Barbie, meu principal passatempo era pegar retalhos de tecidos e botões e criar diferentes looks para a boneca”.
Já nessa época ela revelava um olhar diferente, com sensibilidade estética e noções de composição que apontavam para um caminho que parecia não ter volta. Porém, como uma típica leonina de personalidade forte e temperamento doce e impetuoso (por que não?), Tati decidiu romper convenções e trilhar por caminhos distantes da moda, mas como diz o poeta: “o chamado da vocação ecoa mais alto que o chamado da razão”, e sem perceber ela sempre estava, mais uma vez, envolvida pelo universo da Moda.
Sua primeira escapulida veio com a decisão, aos 17 anos, de entrar para a faculdade de odontologia para seguir a carreira do pai e trabalhar em sua clínica na região de Sintra. “Na minha cabeça eu fiz uma matemática bem básica: sempre gostei de biologia, amo Portugal, e como dentista posso fazer uma carreira na clínica do meu pai”. Após receber seu título de graduação com 21 anos e, de fato, mudar-se para Portugal, Tati descobriu que a rotina do consultório não era realmente o que ela tinha como aspiração para a vida.
Fato interessante é que, paralelamente a tudo isso, Tatiana sempre trabalhou como modelo, com trabalhos esporádicos desde os 14 anos no Brasil, e de forma profissional e ativa em Lisboa, onde era agenciada pela L'Agence Models durante o período em que se dedicava à carreira de dentista. Sua beleza, inconvencional para a época, fez sua carreira subir exponencialmente em um curto período, mas ela não hesitou em abrir mão do sucesso iminente para voltar ao Brasil depois de esgotar seus recursos emocionais em uma profissão que já não queria mais, a de dentista. “A minha booker na agência tentou de todas as formas me convencer a ficar, porém meu coração pedia para voltar ao Brasil. Embora eu tenha apenas 1,66m de altura e nunca me enquadrei no shape magérrima, muitas marcas começaram a apostar em mim para campanhas mais comerciais, e estava dando muito certo”.
No retorno ao Brasil pela segunda vez, Magda já havia estabelecido sua boutique em Maringá há mais de duas décadas, e viu no retorno da filha a oportunidade de uma parceria na Aklo. Sem hesitar, ela vestiu a camisa e fez até um curso de Personal Stylist em São Paulo para transformar a experiência de venda de vestidos. “Cada mulher que entrava na loja se tornava uma missão, porque sempre fui muito sincera e o que não cai bem eu falo honestamente, mas meu objetivo era sempre fazer a mulher encontrar a peça ideal e sair extremamente satisfeita”.
Seu dom natural para montar diferentes composições através da moda levou Tatiana a naturalmente trilhar os paços de Produtora de Moda, época em que veio à tona seu verdadeiro dom e talento. No período em que prestou serviços de produção para montagem de catálogos e look books para diversas marcas, além de angariar acessórios e criar cenários, Tati revelou sua paixão pela dramaturgia, criando contextos e fantasiando histórias que davam vida às suas produções. Essa face artística do seu trabalho ficou ainda mais evidente quando ela começou a criar produções para si mesma, após a inauguração do seu perfil no Instagram.
Tati deu à luz seu primeiro filho, Felipe, e se afastou dos seus trabalhos para ser mamãe em tempo integral. Passados os 6 primeiros – e mais críticos – meses, ela já estava “doida” pra produzir. Foi quando o Instagram veio como uma brincadeira, um passatempo produtivo no qual ela, em parceria com a designer de acessórios Clara Dinardi faziam produções dignas de capa de revista. “Eu pegava peças em lojas como Animale, Le Lis Blanc, tudo na base da parceria, e eu planejava cada foto como se fosse um roteiro de filme: qual vai ser a personagem? Que sensação quero que a foto transmita? Qual vai ser a história? Era, acima de tudo, muito divertido”, explica Tatiana.
Como naquela época os algoritmos do Instagram entregavam os conteúdos com maior flexibilidade e fidelidade, em apenas 6 meses a página acumulava 17 mil seguidores. Sua audiência e também a qualidade de suas produções a levou a fechar parcerias comerciais com grandes marcas nacionais. Sem perceber, ela já estava totalmente envolvida em uma nova atividade, em um novo negócio, que exigia um tempo diário que ela não planejava doar enquanto mãe. Desse conflito interno de interesses, Tatiana resolveu tomar a drástica, e precipitada, decisão cancelar sua conta no Instagram. “Como uma boa leonina dramática, eu não congelei temporariamente, eu dei fim à conta de modo que nunca mais conseguiria recuperar. Se eu tivesse a maturidade de hoje, teria contratado uma agência e uma assessoria para me ajudar com as demandas e assim poder conciliar o que amo fazer com meus propósitos enquanto mãe”.
Mesmo sem um perfil no Instagram, ela continuou fazendo trabalhos esporádicos para algumas marcas, e neste ínterim veio o segundo filho, André. Em face do desafio de educar dois filhos pequenos, Tati confessa que fez todos os esforços conscientes do mundo para se estabelecer como mãe de período integral, se alegrando com o fato de que não precisava trabalhar... Porém, este personagem nunca lhe caiu bem. “Eu sou muito ativa e até inquieta eu diria, não combina comigo ficar em casa e esperar as crianças chegarem da escola”. Ela sentia uma lacuna não preenchida, uma frustração, pois o Instagram foi seu primeiro job 100% by Tati Egoroff, um projeto que surgiu do zero e foi integralmente idealizado por ela, já que a profissão dentista foi um segmento do pai e o trabalho na Aklo um segmento da mãe.
Atualmente, com os filhos com 3 e 5 anos de idade, ela reinaugurou seu perfil, começando novamente do zero, mas dessa vez ela veio repaginada e com um apelo diferente do perfil anterior. “O perfil anterior estava muito ancorado à minha beleza e ao meu modo de vida, agora eu voltei como uma mulher de 38 anos, para levar con-te-ú-do e informação, quero que a página seja maior que eu, para que no futuro faça sentido as pessoas continuarem seguindo o perfil, mesmo que eu esteja bem velhinha”. Como parte dessa nova jornada, ela tomou a decisão libertadora de se revelar natural, sem filtros e sem estereótipos. “Eu já passei pela fase de não conseguir ir na padaria sem passar um corretivo no rosto, hoje eu quero que a Tati que as pessoas vêm nas ruas, seja a mesma que elas encontram na internet”.
Atualmente, Tati compartilha que se sente mais equilibrada quanto à equação de ação e tempo. “Minha mente borbulha, então se deixar eu fico o dia todo produzindo, mas com o tempo tenho aprendido que o bom mesmo é ir devagar, devagar e sempre”.
Devagar e sempre... Que forma mais linda de perceber que, enquanto humanos, somos finitos e não conseguimos abraçar o mundo, mas ainda podemos estender os braços e abraçar o que está ao nosso alcance. “Cada experiência, cada escolha e cada caminho ajuda a moldar quem somos, definir nosso caráter. Posso sim ter feito escolhas erradas, mas sou grata por tudo o que elas me tornaram”.
Em boa parte de sua trajetória, o marido da Tati, Fernando Nery, se fez presente. Ele é pecuarista e vive, no cotidiano, em um universo bem distinto da moda. Dentre as qualidades do parceiro, Tati destaca o quanto ele é bom pai e se derrete pelos filhos.
Um hobby que une o casal é viajar e ela nos conta qual destino mais amou! “Um dos lugares mais fantásticos em que estive, e quero voltar, foram as ilhas gregas. Talvez por ter uma ancestralidade grega, eu me senti pertencente àquele lugar, foi mágico e muito forte”.
De todos os rostos que estamparam sua marca nas capas da WIT, Tati Egoroff foi, com certeza, a que mais teve participação na concepção artística de cada fase da criação. Sobre sua trajetória até o click que deu origem à capa, ela conta: “no início pensamos em uma mistura de cores vibrantes. O interessante é que só mais próximo do dia do ensaio fotográfico que definimos o que seria e foi algo totalmente oposto à ideia inicial: o novo plano foi inspirado em um editorial onde a Bruna Marquezine usava coque alto, make glow e estava envolvida com tecido metalizado rosê. Como as outras edições da revista já vinham trazendo cores fortes, tive um insight para fazer algo totalmente oposto, porém não menos impactante... Algo fresh e iluminado, que remetesse a uma bonequinha de luxo rebelde, de delineador gatinho e laço rosa contrastando com coque desconstruído e earcuffs preenchendo toda a orelha! Bingo! Quando estava indo para a sessão fiz uma oração e pedi para Deus colocar um brilho especial nas fotos e o resultado ficou maravilhoso! Ao final da sessão chorei de alegria e fiquei muito feliz com a sensação de trabalho feito com excelência”. É uma fofa ou não é? Viva Tati Egoroff!
Comments