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A GAROTA DA CAPA

TEXTO VINÍCIUS LIMA FOTOS RAFAEL SAES / ACERVO PESSOAL


Paulo Kretly, respeitado gestor e renomado empresário brasileiro, é também autor de alguns livros. No principal deles, com o título Figuras de Transição, Paulo discute a característica de pessoas que, em suas histórias de vida, se negaram a olhar para si mesmas através do espelho social (a forma como a sociedade nos vê) para buscar dentro de si uma poderosa convicção que as levou a trilhar o caminho do sucesso. Vemos ali histórias como a de Amador Batista, que saiu da condição de mendigo para se tornar o fundador do banco Bradesco. Tá! Mas o que isso tem a ver com a nossa capa?


Enquanto a crítica especializada enxerga o livro de Paulo Kretly como um título motivacional e inspirador, para impelir homens e mulheres a atingir seu potencial pleno, nós decidimos nos apropriar desse fabuloso autor para interpretar seu livro pela ótica do estereótipo... da velha e conhecida parábola do sujeito pobre e de cidade pequena que ganhou o mundo ao acumular riquezas e fazer o bem.

O culto por esse tipo de histórias de superação é tão disseminado pela literatura global que o ser humano desaprendeu a entender histórias como a da menina que já nasceu em berço esplêndido mas que, sim, precisou acumular muitas conquistas e méritos em sua vida.


Nossa capa é um tributo à quebra de estereótipos, personificada na figura de Vava Göelzer, aclamada por muitos e odiada por outros. Não importa. Vava soa para nós como prova de que qualquer um pode escolher viver à sua própria maneira sem agredir ninguém.


Nas duas vezes em que Vava recebeu nossa redação, ela estava totalmente sem maquiagem, de cara limpa. Acreditamos ser esse um sinal de carta branca para entrarmos em seu verdadeiro mundo interior.


Por trás do mulherão que vemos em suas redes, adornada por brilhos e maquiagens coloridas, existe uma menina de sorriso fácil e semblante agradável. Vava conta que, quando criança, era muito tímida e tinha muita dificuldade para socializar. Ela encontrou na maquiagem, aos 13 anos, o seu empoderamento pessoal. “Eu acho que encontrei na maquiagem uma forma de defesa. Não me sinto mal sem ela, mas maquiada me sinto muito mais confiante, e poderosa”. Ao perceber a palavra “defesa”, perguntamos do que ela precisa se defender. “No fundo, no fundo, acho que todo mundo tem medo da rejeição, de não ser aprovado. Embora as pessoas não saibam, por trás dessa pose confiante também sinto esse medo. Não que eu viva tentando agradar as pessoas, mas não dá pra mentir, nem sempre a rejeição é indolor”.


É até difícil nós, meros mortais, entender qual o grau de rejeição de uma figura pública que tem 17K seguidores no Instagram. Mas ela explica que a matemática é simples: a quantidade de haters aumenta junto com a quantidade de lovers. Às vezes aquele primeiro de forma exponencial [risos]. Ela considera que 17 mil seguidores, para um instagram que está ativo há 7 anos, não é um grande mérito. Seu aumento de seguidores aconteceu de forma gradativa e natural. “Se você dividir esse número de seguidores entre os anos em que minha conta está ativa vai ver que o aumento foi gradual. Ter uma conta grande nunca foi meu objetivo. Acho que é isso o que as pessoas gostam em mim, ver ali uma vida, uma pessoa, e não somente viagens, jantares e roupas”. Quem acompanha, sabe: os stories de Vava são uma miscelânea de convívio familiar, ações filantrópicas, presença em eventos, viagens e, na época da faculdade, até ensaio como cheer leader.

Buscamos entender se estar diariamente no foco da câmera pode se tornar uma obsessão, e fomos surpreendidos com a resposta: “já pensei em acabar com a minha vida virtual várias vezes [risos]. Querendo ou não isso acaba sobrecarregando a gente, e é muito frustrante quando você prepara um conteúdo super relevante, e a própria rede social não entrega para os seus seguidores da forma como deveria. Já cheguei a receber poucos likes e comentários em uma foto e pensar ‘poxa, será que meu conteúdo é tão ruim assim?’. Hoje compreendo como nunca que eu não sou meu instagram, o meu valor enquanto ser humano não está condicionado à quantidade de likes que recebo, e hoje vejo que aquilo que é postado nas redes sociais nem sempre representa a vida como ela é”.


Seria esse grau de maturidade e inteligência emocional fruto da sua formação em direito? “Não, foram anos de terapia mesmo”, respondeu ela para o deleite dos presentes. Ela explica ainda que quando se tem por profissão a exposição da própria imagem, fica muito mais difícil separar sua vida pessoal da sua vida profissional. “Claro que acaba sendo parte do meu trabalho expor meu cotidiano, e até alguns pontos da minha vida pessoal, essa linha entre o que deve ou não ser postado é muito tênue, mas existem coisas nos bastidores que as pessoas não fazem a menor ideia. Já aconteceu de eu estar fazendo um trabalho para uma loja, captar todo o conteúdo, editar e postar 3 dias depois da gravação, nesse mesmo dia tinha o aniversário de uma amiga, e eu disse que não iria pois estava doente e ela me disse ‘poxa, você parecia tão disposta no provador da loja’”.

Aliás, falar sem filtros ou sem medir as consequências parece ser uma atribuição não aspenas de amigas... “As pessoas têm a falsa impressão de que podem falar o que quiserem para uma figura pública, mas como qualquer pessoa, nós também temos sentimentos”.


Vava nasceu em 1995, é formada em direito pela PUC de Londrina, transformou em profissão o status de formadora de opinião, tem uma mãe e um irmão advogados e um pai aviador-gastrônomo (oi?). Sim, após uma carreira de piloto ele se graduou recentemente em gastronomia. Vava também fez 2 intercâmbios, fala 5 idiomas, visitou 98 países e é dona de uma convicção e personalidade que a fez mudar até de nome. Morou sozinha na época da faculdade e viveu por 2 longos anos a trilogia: estudar de manhã, estagiar à tarde (no observatório social de Londrina), limpar e cozinhar a noite. Ela foi professora de inglês em uma escola particular e ao longo da vida acumulou práticas como ballet, jazz, sapateado, canto coral, técnica vocal, teatro, street dance e por aí vai...


Se você acha que é muita experiência para pouca idade, precisamos ainda nos aprofundar no tema viagens. Ela explica que por seus avós terem falecido quando ela ainda era menina, sua família sempre se resumiu ao irmão e os pais. A experiência de uma ceia de Natal com a casa cheia, nunca foi uma realidade, por isso seus pais desenvolveram a tradição de viajar em família. “Até hoje eu nunca passei um revéillon aqui no Brasil. Pros meus pais, viajar sempre foi uma forma de escapar da dor da perda, até que se tornou nosso maior hobby”. De roteiros mega luxuosos até 40 dias pelo interior da Índia dentro de uma Kombi, de quase tudo essa família vivenciou em suas viagens, até mesmo acampar em barracas, em pleno safári africano.


“Nosso principal critério para escolher o destino é o preço da passagem. Primeiro compramos as passagens e só depois vamos fazer pesquisas sobre o local e o que ele pode nos oferecer. Agora com o Google e o GPS ficou tudo mais fácil, mas ainda hoje temos enciclopédias e mapas que usávamos em nossas primeiras viagens”.


Muito mais do que uma bagagem cultural, suas viagens lhe ensinaram o valor do estar junto, em família. “Pra mim, na vida, temos pequenos prazeres. Um dos meus prazeres é dizer ‘Sou filha da Sandra e do Henrique Pinto’ e as pessoas dizerem ‘Nossa! Seus pais são demais’, ouvir isso é bom igual comer brigadeiro. É um pequeno prazer.”




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