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A finitude é crônica para todo mundo

Cuidados Paliativos é um campo da medicina muito recente, conceituado pela Organização Mundial da Saúde apenas em 2002, mas cuja prática se estende por milênios ao longo da história: o cuidado físico e espiritual de pacientes e familiares que enfrentam doenças com baixa expectativa de cura


Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), Cuidado Paliativo “é uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameaçam a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Requer [...] o tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual”.


Em outros termos, os cuidados paliativos surgiram para ser um campo da medicina capaz de lidar com o fato de que as pessoas podem ter doenças que talvez não tenha cura. Se a medicina só servisse para curar as pessoas, estaria a medicina olhando para a vida de verdade?


É por isso que nos tratados sobre Cuidados Paliativos não se fala sobre a impossibilidade de cura, mas na possibilidade ou não de tratamento modificador da doença, desta forma afastando a concepção de que “não há mais nada a ser feito”.


Por ser uma especialidade rara e pouco conhecida, até mesmo os profissionais médicos incorrem no erro de encaminhar um paciente para um médico paliativo apenas quando todas as fases possíveis de tratamento foram frustradas e o paciente encontra-se em “fase terminal”. Muito antes desta fase, os cuidados paliativos podem beneficiar qualquer paciente e familiares que possam ser promovidos a um bem-estar maior por meio de cuidados não apenas físicos, mas de orientação e esclarecimento.


Em Maringá encontramos a médica Melina Slemer, pós-graduada em Medicina Paliativa pelo Instituto Sírio Libanês de São Paulo. Embora ela já tenha promovido um fim de vida mais agradável e justo a diversos pacientes oncológicos, ela explica que existe um amplo leque de pessoas que poderiam ser favorecidos pelos cuidados paliativos: “o conceito de cuidados paliativos é muito amplo, porque abrange inclusive a família e os cuidadores deste paciente, que também sofrem junto. Quando se fala em tratar pacientes com doenças ameaçadoras da vida, isso pode incluir demências, doenças neurológicas, esclerose lateral amiotrófica – uma doença degenerativa em que o paciente vai perdendo os músculos do corpo, dentre muitas outra doenças neurodegenerativas”, explica a doutora Melina.


É incrível compreende que existe uma medicina baseada no tratamento do indivíduo e não da doença em si.


Em um artigo autoral e muito emocionante escrito para a edição Fev/2021 da revista Marie Claire, a leitora Roberta Malta narra sua própria experiência de lidar com um câncer incurável há 10 anos: “Comecei a questionar o que é a vida? É só biologia? Os pacientes de câncer, mesmo os que compreendem que não têm cura, só querem falar sobre a possibilidade (inexistente) de um dia serem saudáveis. Cura é outra coisa. É poder contar o que vivi, entender que isso faz parte de mim, e ajudar outras pessoas a não passarem por isso”.


Os precursores dos cuidados paliativos são aqueles que se importaram com vidas humanas. A principal delas é a médica, enfermeira, assistente social e escritora inglesa britânica Cicely Saunders, fundadora do movimento Hospice, que são instituições de internamento com espaço físico próprio para acompanhamento, tratamento e supervisão clínica a doentes em situação clínica complexa e de sofrimento decorrentes de doença severa e/ou avançada, incurável e progressiva.


O que hoje está se tornando conhecido como Cuidados Paliativos envolve um conjunto de práticas com a finalidade de diminuir o sofrimento. Normalmente esta prática envolve profissionais de diferentes áreas da saúde como psicólogos, médicos, equipe de enfermagem, fisioterapeutas (dependendo da enfermidade) e os familiares do paciente.


Para a doutora Melina Slemer o termo cuidado resume bem o ofício de sua profissão: “é o cuidado do paciente no âmbito total: sintomas físicos – dor, falta de ar, desnutrição, todos os sintomas relacionados ao sofrimento do individuo; sintomas psíquicos – depressão, tristeza, ansiedade e medo; sociais e familiares – onde ele mora, como ele vive, qual a possibilidade de cuidado dele dentro do contexto dele; e o espiritual, que não é religião, mas aquilo que faz sentido para cada individuo”, esclarece Melina.




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