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SLOW FASHION

TEXTO AMANDA CULTI - FOTOS CORTESIA/MUDHA/H-AL/Yë/ADA

Na contramão da cultura imediatista do “é pra já” e do “é pra ontem”, vimos surgir e crescer nas últimas décadas o movimento slow. O Slow Movement invadiu o mundo ocidental para se contrapor às consequências de uma sociedade imediatista e consumista, predominantemente materialista, urbana e workaholic, propondo uma mudança cultural para a desaceleração da vida cotidiana.

Esse modelo surgiu em 1986 como uma resposta à abertura das primeiras redes de fast food. Na época, o jornalista Carlo Petrini realizou um protesto contra a inauguração de um restaurante McDonald’s na Piazza di Spagna, em Roma. O intuito foi chamar atenção das grandes marcas para a necessidade de resgatar a responsabilidade na produção de alimentos. Nesse contexto surgiu o conceito de Slow Food, alimentos preparados com carinho, respeitando o tempo e a matéria-prima fornecida pelo ambiente de cada região, sendo contra os padrões de consumo exagerado e de alimentos industrializados e ultra processados.


O livro de Carl Honoré de 2004, “In Praise of Slowness” (traduzido para o português em 2005 sob o título “Devagar”), explorou pela primeira vez como a filosofia “Slow” pode ser aplicada em todos os campos da atuação humana. Honoré descreve o Slow Movement assim: “É uma revolução cultural contra a noção de que mais rápido é sempre melhor. A filosofia Slow não é fazer tudo a um ritmo de caracol. Trata-se de tentar fazer tudo à velocidade certa. Saboreando as horas e minutos em vez de apenas contá-los. Fazendo tudo o que for possível, em vez de ser o mais rápido possível. É sobre ter qualidade em detrimento da quantidade em tudo, desde o trabalho até a comida e a criação dos filhos.”


Desafiando a cultura da velocidade, do excesso e da quantidade que se sobrepõe à qualidade e ao consumo consciente, o movimento slow traz em sua bagagem alguns valores importantes que o norteiam: Valorização de um desenvolvimento durável e sustentável ao invés de um crescimento de desgaste rápido; Respeito às diversidades ambientais, locais, culturais e individuais; Proximidade e humanização, cuidado e atenção às pessoas de forma personalizada e flexível, em oposição à produção em série, à impessoalidade e desumanização; Valorização da qualidade em vez da quantidade; Respeito pelos ritmos naturais, pessoais e sociais; Conciliação e integração das diferentes áreas de vida (educação, saúde, relacionamentos, família, trabalho, lazer) numa perspectiva multidimensional e holística; Equilíbrio entre os extremos e moderação aos excessos de forma a minimizar as assimetrias e os fundamentalismos; Bem-estar e realização do potencial do indivíduo, do território e da comunidade; Valorização da simplicidade voluntária e uso responsável dos recursos materiais.


Atualmente, o princípio “Slow” já é aplicado em outras áreas e diferentes aspectos da vida, e vêm se desenvolvendo em especial na Europa e países desenvolvidos. Após alguns anos desde o surgimento deste conceito, diferentes vertentes do movimento foram criados, como as Slow Cities, Slow Aging, Slow School, Slow Travel, Slow Books, Slow Living, Slow Money e o Slow Fashion.


Inspirada neste formato, a indústria da moda iniciou o movimento Slow Fashion como uma alternativa sustentável ao mercado frenético da moda, chamando a atenção de criadores e consumidores para a responsabilidade ética, social e ambiental desse mercado.


Bem mais recente que o Slow Food, o termo Slow Fashion tem sua primeira definição cunhada em 2008 por Kate Fletcher em seu livro “Sustainable Fashion and Textiles: Design Journeys”. Até hoje Kate é referência nos estudos da área.

Enquanto o Fast Fashion ou Moda Rápida foi criado a fim de atender às necessidades dos consumidores de forma acessível e imediata, priorizando a produção em massa, com mudanças contínuas, busca permanente do novo, produção acelerada da obsolescência, alternância e sistema cíclico, buscando seduzir o consumidor com peças cada vez mais baratas e descartáveis, promovendo um ciclo de retirada de matéria prima do meio ambiente cada vez maior; o Slow Fashion vem no processo contrário.


Prezando pelos conceitos de “menos é mais” e “qualidade em vez de quantidade”, a proposta slow na moda é resgatar o valor das roupas, evitar o descarte rápido e o consumismo desenfreado. A Moda Lenta é o primeiro ciclo que engloba todas as fases da moda, desde a escolha das mãos de obra que são de preferência locais, do tecido e do material utilizado, até o seu descarte ao fim da vida útil.

Para o professor de Design de Moda da Universidade Positivo (UP) e doutourando em comunicação Hélcio Fabri, estamos resgatando antigos costumes. “O Slow não significa apenas consumir menos. No caso da moda, o tempo de uso do produto precisa ser maior, precisamos comprar uma roupa para usar várias vezes ou nós não vamos sobreviver a essa pressão”.


A primeira marca com o princípio Slow Fashion surgiu em Los Angeles nos Estados Unidos em 2006, curiosamente dois anos antes do termo ser oficialmente definido. A marca The Row, comandada pelas irmãs Olsen, foi criada com foco em roupas, bolsas, calçados e acessórios atemporais. No Brasil, já podemos encontrar inúmeras marcas com essa pegada slow em todo o nosso vasto território, e algumas têm se destacado mais, como são os casos da Mudha, Ada e Brisa do Rio Grande do Sul; da Manu Manu e Loja Três do Rio de Janeiro; e a Yë, Orna e H-AL de Curitiba.


As marcas nesse formato utilizam mais tempo de produção para garantir mais criatividade, qualidade e reduzir os impactos socioambientais. A produção valoriza o trabalho manual, o artesanato, a própria técnica do designer como um todo, resultando em produtos únicos e com um preço real, uma vez que englobam todos os custos necessários ao longo do processo.


As coleções tendem a ser sazonais e a apresentarem roupas minimalistas e atemporais, ou seja, com um corte que minimiza o desperdício de tecido e principalmente cores neutras como branco, preto, cinza e azul marinho que podem ser utilizadas em qualquer época do ano, independente de uma tendência, podendo compor looks com diversas tonalidades de cores.


Outra característica desta nova moda é o incentivo aos modelos de negócios locais e independentes, como bazares, roupas artesanais feitas por tecelãs e produtores locais, designers independentes, etc; estimulando a economia e moda da própria região, em vez de consumir apenas roupas feitas por grandes marcas, além de colaborar muitas vezes com a manutenção da cultura local.


O Slow Fashion abre as portas para um debate central sobre sustentabilidade. Significa a chegada do consumo consciente e socioambiental na moda, mas que junto dele, e não menos importante, também traz temas de grande relevância na sociedade atual como inclusão, empoderamento feminino, veganismo, economia criativa e de base solidária, diversidade cultural, etc.


O interessante é que qualquer pessoa pode virar adepta do consumo consciente, investindo em peças que realmente valem a pena usar e que tenham qualidade, reaproveitando roupas antigas, doando as que não cabem mais, ter sapatos e acessórios sem exageros, e por aí vai. Tudo isso podendo ser de uma forma divertida, estimulando a criatividade na hora de montar os looks e adquirir peças novas. Se você nunca olhou para a moda dessa forma, nós te convidamos a começar.





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