Surpreendente por tantos ângulos, Maringá é mesmo uma cidade jardim. Mas será que o futuro da cidade-verde pode nos surpreender ainda mais? Buscamos essa resposta no homem que melhor representa a classe civil empresarial organizada da cidade: Jefferson Nogaroli
TEXTO VINÍCIUS LIMA FOTOS JOELMA HANDZIUK / REPRODUÇÃO
Não raramente ouvimos pessoas dizerem que só deixariam de viver em Maringá se for para morar fora do país. Não é preciso muito esforço para compreender por que uma cidade pequena, no interior quente do Norte-paranaense, merece tamanho destaque. A explicação vem de números positivos como altos índices do IDH, baixos vetores de violência, distribuição de renda, trânsito planejado e até a segunda classificação consecutiva em 2018 como a melhor cidade do país para viver, segundo a Macroplan, empresa de consultoria especialista em gestão de cidades. A Macroplan é responsável pelo estudo Índice dos Desafios da Gestão Municipal (IDGM), que mediu a Educação, a Segurança, o Saneamento e a Saúde das 100 maiores cidades do Brasil, que correspondem a 37% da população brasileira, 50% do PIB, e 54% dos empregos formais. Dados e fatos que são suficientes para colocar os canteiros floridos, bosques e 17 áreas de conservação ambiental da cidade como argumentos secundários quando pensamos no porquê de ela ser tão especial.
O que muitos não sabem é que estes e muitos outros méritos da cidade-canção são fruto do esforço coletivo de uma classe não-política que há décadas vem, de forma literal, desenhando os horizontes da cidade. Na verdade, é possível dizer que Maringá, tal como a conhecemos hoje, é fruto de uma sociedade civil organizada que ousa planejar a cidade de uma forma que a política jamais faria sozinha. “A sociedade civil soube se organizar para ser uma força auxiliar das autoridades constituídas, porque os gestores do poder público muitas vezes estão preocupados com as próximas eleições – não que isso seja ilegítimo. Mas, quando o capital social da cidade, trabalhadores, profissionais liberais e empresários, todos preocupados com as próximas gerações, entram em cena, aí temos a fórmula para o desenvolvimento sustentável”, explica Jefferson Nogaroli. O empresário é um dos idealizadores de instituições como Fundacim (Instituto de Responsabilidade Social de Maringá), IDR (Instituto para o Desenvolvimento Regional), Casa Mercosul (Instituto Mercosul de Comércio Exterior), CODEM (Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá) e muitos outros.
Muitas vezes o poder público condiciona a população a pensar de forma muito imediata ao defender projetos com efeitos de curto-prazo e que visam reter votos dentro do período de reeleição, enquanto alguns benefícios indispensáveis à sociedade precisam ser cultivados por décadas antes de florescer, como o declínio dos índices de criminalidade. É neste cenário que entra o tecido social organizado, que em Maringá funciona tão bem, apontando caminhos para o poder público. “Os governos precisam ouvir da sociedade que determinadas ações vão diminuir a taxa de violência daqui a 20 anos por exemplo, mesmo que hoje isso não gere voto”, explica Jefferson Nogaroli.
Temos como exemplo o Movimento Repensando Maringá que há 23 anos, em 1996, reuniu diferentes segmentos de grupos empresariais e religiosos, trabalhadores, entidades patronais, comércio e indústria para se transformar em uma força dirigente capaz de ditar os rumos visando o desenvolvimento da cidade. Nogaroli foi um dos líderes do Repensando Maringá, que deu origem ao CODEM, criado por lei municipal em 1997 e responsável pela gestão do Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico. Este conselho tem a missão de formular as políticas de desenvolvimento da cidade.
A maioria das diretrizes e metas da Maringá de 2020 já se tornou realidade. Alguns objetivos traçados excederam as expectativas, como o plano de concentrar 80 mil estudantes universitários em Maringá, sendo que na época havia apenas 12 mil. Hoje Maringá tem 2500 alunos só nos cursos de medicina, que deixam um ativo circulante de 10 a 12 mil reais cada um, por mês na cidade. Maringá representa 9% de todas as matrículas do Estado em cursos presenciais, e a UniCesumar tem mais de 140 mil alunos na modalidade a distância.
Em fevereiro de 2008 o CODEM aprovou e apresentou para a comunidade o planejamento Maringá 2030. Trata-se de uma atualização e revisão dos objetivos e diretrizes do Maringá 2020, com planos no âmbito de desenvolvimento econômico, meio ambiente, cidadania e cidade.
Dentre as centenas de estratégias de desenvolvimento presentes no documento Maringá 2030, destacamos:
Consolidar o Tecnoparque, área de 30 alqueires destinada à instalação de empresas de base tecnológica, de pesquisa aplicada e desenvolvimento experimental;
Ampliar o aeroporto e dotá-lo de estrutura necessária à operação internacional;
Implantar o projeto do trem de passageiros para o transporte de massa, urbano e regional;
Revitalização da antiga rodoviária e terminal urbano;
Criar o Conselho Municipal das Águas e promover a criação de Conselho Regional para regular a sua utilização e destinação racional, bem como para garantir a sua conservação para as gerações futuras.
Depois de conscientizar a sociedade de que ela pode gerir seu destino, criar projetos e trabalhar em sintonia com o poder público, um novo plano socioeconômico, maior e mais ambicioso, foi criado: o Masterplan Metrópole de Maringá. Também conhecido como Maringá 2047, este grupo de diretrizes criado pelo CODEM em conjunto com a ACIM e a comunidade projeta a cidade para 2047, quando esta completa seu primeiro centenário. Mais de 200 voluntários participaram do processo de elaboração do plano, além de uma consultoria internacional contratada para estudar os principais indicadores socioeconômicos do município, identificar potenciais e prospectar uma visão de futuro para 2047.
MASTERPLAN MARINGÁ EM 2047
Os setores-chave identificados no Masterplan para o desenvolvimento de Maringá até 2047 são: saúde, educação, tecnologia da informação e setor financeiro. Um dos macro desafios para a saúde de Maringá é o aumento da população idosa. Em 2018, com 417 mil habitantes, a população idosa era de 76 mil pessoas, 18% da população da cidade. Em 2046, a projeção do IPARDES (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) é que Maringá alcance 576 mil habitantes, sendo 197 mil idosos, o que chega a 34% da população da cidade.
Outro desafio se apresenta no setor financeiro. Apesar do elevado número de graduados no ensino superior, existe uma falta de profissionais qualificados em serviços de intermediação financeira em Maringá, o que leva empresários a buscarem profissionais em outras regiões do país. Além disso, muitos consumidores não possuem conhecimentos sobre os produtos financeiros ofertados, reduzindo a penetração destes e o crescimento do setor. Algo semelhante acontece no setor de tecnologia da informação e comunicação, área na qual a cidade já tem grande destaque, mas muitos profissionais de TI ainda têm qualificações técnicas inferiores às necessidades dos executivos, levando-os a recrutar em grandes centros. As iniciativas priorizadas para o setor de TI no Masterplan visam “tornar Maringá referência global em inovação e tecnologias inteligentes, sendo uma matriz econômica, intelectual e social que gera qualidade de vida, valor e renda para a região”.
Em termos de infraestrutura podemos esperar para 2047:
A urbanização da Zona 10, região que atualmente concentra silos históricos e abandonados;
A ampliação do aeroporto e integração rodoferroviária;
Consagrar o Tecnoparque como o maior da América Latina;
A fundação do Parque do Trópico de Capricórnio, que será uma espécie de reserva natural temática localizada no final da Av. Cerro Azul em uma área de 96,8 mil m² que vai trazer atrações como um memorial que terá como conceito fundamental um museu geográfico e cultural de todos os 11 países cortados pelo Trópico de Capricórnio, estacionamento, pista de rolimã, lago com pedalinhos e praça para alongamento;
A localização do novo Centro Cívico da cidade na região do antigo aeroporto.
Este último tópico merece destaque, pois vai transformar 57,8 alqueires do antigo aeroporto em uma smart city que já tem nome e sobrenome: Euro Garden.
EURO GARDEN
Um projeto arrojado da iniciativa privada que contempla hotéis, shoppings, restaurantes e apartamentos residenciais sofisticados. Encabeçado por Jefferson Nogaroli, o Euro Garden é uma parceria entre o município e empreededores para transformar a região da Av. Gastão Vidigal em um bairro sustentável e luxuoso e também concentrar as edificações públicas da gestão local.
Tal parceria permite que os prédios ali construídos sejam mais altos do que os existentes hoje. Essa prerrogativa permitiu que o Arq5, escritório francês contratado para desenhar o projeto, imprimisse um ar futurista para a região. Em contrapartida, a iniciativa privada fica responsável pelas obras de infraestrutura em toda a região do antigo aeroporto, incluindo o novo Centro Cívico.
Esta região que pertence à União, já recebeu os prédios da Justiça do Trabalho e Fórum Eleitoral, e ainda serão construídos diversos outros órgãos públicos, como Fórum, Justiça Federal, Procuradoria da República e até a Prefeitura e Câmara Municipal.
Para viabilizar o futuro fluxo de pessoas, um novo sistema viário foi projetado, que compreende a abertura de várias ruas e avenidas, tendo como eixo principal o prolongamento da Avenida Brasil, que vai cruzar todo o antigo aeroporto, transpor o Contorno Sul e dar acesso à Sarandi.
UM BERÇO ESPLÊNDIDO
Maringá é diferente porque ela nasceu diferente. Quando a economia global apontava para uma ordem econômica de produção de algodão, toda a região do norte do Paraná foi comprada pela companhia inglesa Paraná Plantation, que fundou vários municípios, sendo o primeiro Londrina, projetada para ter 50 mil habitantes em 50 anos, mas que atingiu esse contingente em apenas 15.
Após esta experiência com Londrina, Maringá foi mais cuidadosamente planejada, localizada em topografia mais adequada, elevada, com menos rios, menos fundos de vale e capaz de comportar uma malha urbana de 200 mil habitantes. Essa herança pioneira trouxe a tradição do urbanismo para a cidade, uma característica que se tornou identidade local e que vai, no futuro, continuar tranformando nossos horizontes para o benefício de futuras gerações.
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